Houve então aumento no número de congregações
independentes no separatismo inglês, bem como uma maior perseguição religiosa
dos dissidentes. Um dos grupos que se formou foi perseguido e fugiu para a
Holanda; era comandado pelo ministro anglicano John Smyth e apoiado por um
leigo chamado Thomas Helwys que, na companhia de cerca de cinquenta pessoas,
foi para Amsterdã, na Holanda. A história desse grupo é cheia de detalhes e vai
ser aqui resumida.
Na Holanda, graças ao relacionamento de Smyth
com os menonitas da Igreja Waterlander de Amsterdã, principalmente com um rico
homem de negócios chamado Jan Munter, o grupo passou a se reunir em parte das
amplas instalações de uma padaria de sua propriedade. Estava Smyth buscando uma
igreja ideal, neotestamentária e apostólica. Em 1609, com base bíblica, chegou
ele à conclusão de que uma igreja como buscava deveria ser formada de pessoas
adultas que tivessem ouvido a mensagem do evangelho, aceitado o senhorio de
Cristo e fossem batizados. Todos os integrantes da congregação, inclusive a
liderança, eram anglicanos que haviam sido batizados enquanto crianças nas suas
paróquias de origem, conforme costume católico mantido pela Igreja da Inglaterra.
Resolveu então Smyth recusar aquele batismo infantil e rebatizar todos os
membros, por aspersão, começando por seu autobatismo, já que não havia outro
ministro que pudesse praticar o ato. Formou-se então a “Congregação da
Padaria”, conforme é hoje conhecida, o primeiro embrião batista a surgir no
mundo. O autobatismo de Smyth rendeu-lhe muitas críticas entre seus colegas
ministros na cidade, já que o grupo não era o único que havia buscado abrigo em
Amsterdã. Após reflexão, Smyth pediu perdão a Deus e à congregação,
arrependendo-se de ter organizado a igreja, reconhecendo a Igreja Menonita
Waterlander como uma igreja verdadeira, já organizada e estruturada na cidade.
Tentou então convencer todos os membros da congregação a segui-lo no pedido de
aceitação como membros de Waterlander. A maioria concordou com seu pastor, mas
Thomas Helwys, seu apoiador, não se convenceu de que houvessem errado, dizendo
que o trabalho deveria continuar e ser levado de volta à Inglaterra.
Dez foram os integrantes do grupo que manteve a
fidelidade aos ideais batistas que começavam a ser criados, sendo conhecidos os
nomes de John Murton, Thomas Helwys, William Pygott e Thomas
Seamer. O
grupo maior, que abandonou a linha batista, acompanhou Smyth e continuou por
muitos anos reunindo-se na padaria de Munter. Após um longo processo que durou
alguns anos, eles foram aceitos como integrantes da Igreja Menonita.
O grupo menor precisou organizar suas reuniões
em outro lugar (talvez na residência de algum deles), até que, por volta de
1611, seus integrantes voltaram para a Inglaterra, organizando em 1612 a
Primeira Igreja Batista em solo inglês: o embrião holandês foi transplantado de
volta ao solo de origem. O local escolhido para as reuniões da primeira igreja
foi Spitalfields, nos arredores de Londres daquela época. A igreja deu origem
aos chamados “batistas gerais”, já que seguiam uma orientação arminiana, talvez
recebida enquanto esteve na Holanda, já que Armínio era um teólogo holandês
influente entre os menonitas.
Thomas Helwys
(1550-1616) foi, sem dúvida, um dos líderes batistas mais importantes entre os
pioneiros do trabalho. Fiel companheiro de John Smyth até que a “congregação da
padaria” se constituísse como nosso embrião batista na Holanda, com a “crise de
consciência religiosa” de Smyth e sua adesão ao menonitas juntamente com a
maioria da congregação, dependeu de Helwys e de sua firme liderança diante dos
demais a manutenção da fé batista incipiente, não somente na permanência por
mais algum tempo em Amsterdam, mas também na volta para a Inglaterra.
Ao voltar para a
Inglaterra e continuar a enfrentar a perseguição religiosa sob o rei James I,
Helwys escreveu e publicou “Uma Curta Declaração do Mistério da Iniquidade”. “Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja
afastado aquele que agora o detém”, afirma o texto de II
Tessalonicenses 2.7. “O mistério da iniquidade” é interpretado naquele
contexto como “um poder operante de Satanás”, identificados por
Helwys na pompa, no poder e na política das Igrejas Católica e Anglicana, que
conspiravam com os governos para negar a liberdade de consciência. Foi o
primeiro tratado escrito na Inglaterra, e um dos primeiros no mundo, a apelar
por completa liberdade religiosa para todos os povos. Helwys declara: “Porque a religião dos homens com Deus é
entre Deus e eles mesmos. O rei não deve responder por isso. Nem deve o rei ser
juiz entre Deus e o homem. Sejam eles heréticos, judeus, turcos, ou o que for,
não pertence ao poder terreno puni-los de forma nenhuma”. Uma cópia do
livro foi encaminhada ao rei James I, que mandou prender Helwys em Newsgate,
onde morreu por volta de 1616.
John Murton, o sucessor de Helwys
na liderança da igreja, tinha sido um comerciante de peles em
Gainsborough-on-Trent, tornando-se um seguidor de John Smyth enquanto na
Holanda, e retornando à Inglaterra com Helwys. No período em que o líder esteve
na prisão, a congregação deve ter sofrido perseguição, tendo que passar algum
tempo, talvez, na clandestinidade.
Por volta de 1624, foi levantada por Elias Tookey e alguns membros da
igreja a questão da magistratura. Pessoas que trabalhavam para o
governo e eventualmente portavam armas por causa de sua função eram
consideradas corruptas, com uma influência anabatista no grupo. A questão da
magistratura foi resolvida com a manutenção dos seus integrantes na igreja e
exclusão de Elias Tookey e outras dezesseis pessoas que o seguiam.
John Murton foi o autor de “Perseguição por religião julgada e condenada, em um discurso entre um anticristão e um cristão”, de “Uma descrição do que Deus tem predestinado concernente ao homem” e de “Uma súplica muito humilde de muitos dos leais súditos dos reis, que são perseguidos somente por diferirem em religião”. Apesar da feroz perseguição, a congregação contava com cerca de cento e cinquenta membros por volta da metade da década de 1620, ocasião na qual os dezesseis membros seguidores de Tookey foram excluídos. A igreja mantinha correspondência com os menonitas de Amsterdam, conforme cartas de 1624 e 1625. Na mesma década de 1620, houve uma tentativa de volta ao batismo infantil, tentando agradar a uma parte da congregação. A maioria, no entanto, continuou firme na defesa do batismo adulto do convertido, o qual foi mantido.
John Murton foi o autor de “Perseguição por religião julgada e condenada, em um discurso entre um anticristão e um cristão”, de “Uma descrição do que Deus tem predestinado concernente ao homem” e de “Uma súplica muito humilde de muitos dos leais súditos dos reis, que são perseguidos somente por diferirem em religião”. Apesar da feroz perseguição, a congregação contava com cerca de cento e cinquenta membros por volta da metade da década de 1620, ocasião na qual os dezesseis membros seguidores de Tookey foram excluídos. A igreja mantinha correspondência com os menonitas de Amsterdam, conforme cartas de 1624 e 1625. Na mesma década de 1620, houve uma tentativa de volta ao batismo infantil, tentando agradar a uma parte da congregação. A maioria, no entanto, continuou firme na defesa do batismo adulto do convertido, o qual foi mantido.
As Igrejas Batistas decorrentes do trabalho inicial de Helwys e Murton
passaram a ser chamadas de “Batistas Gerais”, por sua tônica
fortemente anticalvinista. Pregavam uma mensagem de salvação universal
arminiana ou “de livre arbítrio”, teologia desenvolvida por Jacobus Arminius
(1560-1609). O arminianismo entende que o homem tem livre-arbítrio, pelo qual
pode crer e aceitar a Cristo livremente, para depois ser regenerado; crê ainda
que Deus escolheu aqueles que ele, pela sua presciência, viu que iriam
responder com fé à dádiva do evangelho; seu ensino diz que Jesus morreu para
tornar possível a salvação a todos os homens; a graça, segundo o arminianismo,
pode ser resistida por aqueles que não creem; crentes nascidos de novo podem
vir a cair da fé e a perder a salvação. A salvação estendida a todos os
homens em geral é o item que define o nome de batistas
gerais. Essas igrejas encontraram muita aceitação entre as classes mais
pobres de Londres e nas áreas rurais da Inglaterra. Os Batistas Gerais
aceitavam a salvação por boas obras e a separação entre igreja e estado.
Incorporaram a estrutura administrativa da igreja formada de Anciãos (ou
pastores) e Diáconos, como defendia inicialmente John Smyth.
Até a década de 1640, as congregações batistas gerais se espalharam
através da Inglaterra e, em 1641, uma reunião geral foi realizada em
Whitechapel, Londres, na busca de uma organização geral, semelhante à atual
ideia de convenção. São estimadas pelos historiadores cerca de cinquenta
congregações ativas por volta de 1650; eram congregações mais abertas e menos
estruturadas do que outros grupos independentes. Os batistas gerais sofreram
por causa de suas características, já que seus pregadores itinerantes eram
considerados criadores de confusão por muitas autoridades
civis e eclesiásticas através da Inglaterra, sendo, porém, muito populares
entre o povo comum.
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