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A segunda origem batista aconteceu ainda na
Inglaterra, resultando na Primeira Igreja Batista Particular Inglesa, também
surgida do separatismo inglês. Começou com uma congregação conhecida pelos
historiadores como “a Igreja JLJ”,
segundo o nome dos seus três primeiros pastores (Jacob, Lathrop
e Jessey), que ainda não tinha a doutrina batista. O primeiro J é de Jacob.
Um dos nomes mais importantes na história do
separatismo da Igreja da Inglaterra foi Henry Jacob
(1563-1624). Jacob era um clérigo ordenado e ativo no movimento de reforma
puritana dentro da Igreja Anglicana. Como puritano, Henry Jacob havia assinado
a já mencionada “Petição Milenária”, recusada quase que totalmente pelo rei
James I. Por seu trabalho pelos dissidentes e por suas discussões por uma
reforma moderada dentro da Igreja Anglicana, foi posto na prisão. Após
libertação, Jacob exilou-se na Holanda e em Leyden se tornou membro da
congregação de John Robinson, que havia também fugido para ali desde 1608. Com
seu trabalho missionário, ajudou a estabelecer um bom número de congregações
não-separatistas entre 1609 e 1616. Em 1616, Jacob retornou à Inglaterra e
começou a pôr em prática seus conceitos de um tipo novo de política
congregacional. Seu conceito era de que a autoridade descansava na congregação
e em seus membros, não na Igreja Nacional. Em Southwark, Londres, Jacob deu
forma a uma igreja nos moldes do Novo Testamento. Foi escolhido então como seu
pastor por votação, com oração e imposição de mãos. Essa igreja em Southwark é
apontada como a primeira Igreja Congregacional estabelecida e permanente na
Inglaterra.
A congregação era composta de separatistas e semi-separatistas,
que ocasionalmente ainda tomavam comunhão na Igreja Anglicana. Jacob foi pastor
da congregação de 1616 a 1622, tendo viajado para a Virginia em 1624, onde
morreu em 1630.
O L da sigla JLJ é de Lathrop, seu 2º pastor. John Lathrop liderou a congregação
de 1624 a 1634. Houve dois cismas, um em 1622 e outro em 1633, ocasião na qual
a congregação havia crescido muito para se reunir sem riscos. Houve o rebatismo
de alguns membros, ainda por aspersão, por julgarem inválido o pedobatismo
anglicano recebido.
O outro J (JLJ)
é do 3º pastor, Henry Jessey, que liderou o rebanho de 1637 a 1639, tendo
ficado a congregação sem seu líder maior por três anos. Houve novo cisma em
1638, quando foram excluídos seis membros por causa do rebatismo. A congregação se juntou à de Eaton, então dirigida por John Spilsbury,
estando Eaton na cadeia. O grupo resultante aceitou a doutrina do batismo do
crente, formando em 1638 a Primeira Igreja Batista Particular
Inglesa. Sob a liderança de Praisegod Barebones, os dissidentes ao grupo
formaram uma igreja congregacional.
Em 1639 podemos
considerar o início da Primeira Igreja Batista Particular, de linha calvinista,
com John Spilsbury (1593-1668) como seu pastor e cerca de 20 membros inicialmentecontando
entre eles com William Kiffin (1616-1701). A congregação deve ter tido suas
reuniões iniciais na rua Broad, Old Gravel Lane, em Wapping. Embora praticando
o batismo do crente, não haviam ainda resgatado a imersão. A introdução da imersão
como forma de batismo aconteceu ao longo do processo. Henry Jacob, Leonard
Busher e Mark Luker, além de outros, defenderam a causa. A congregação de
Jessey enviou Richard Blunt para a Holanda para informar-se sobre a imersão. De
lá, Blunt retornou com orientações sobre a forma de batismo, tendo batizado a
Blacklock e os dois batizaram cerca de 53 outros. A partir de 1644, começaram
os batistas particulares a praticar a imersão com base na autoridade bíblica.
Em 1644, já havia pelo menos sete igrejas batistas
particulares em Londres, as quais formularam a Primeira Confissão de Fé dessas
igrejas, mostrando a diferença entre os particulares e os gerais e mesmo com os
anabatistas do continente europeu. Spilsbury, Kiffin e Samuel Richardson muito
contribuíram para a elaboração do texto.
Além do restabelecimento da imersão como forma
de batismo e da Primeira Confissão
Londrina de 1644, outras contribuições importantes aconteceram com a
participação ativa dos batistas particulares: o sacrifício particular de
Cristo, a perseverança dos santos, a fé como dom de Deus, uma forte
cristologia e a liderança calvinista da congregação local (pastor, mestre,
ancião, diácono) são algumas das características do grupo. Além dos nomes já
citados, Hanserd Knollys (1598-1691, atuante tanto na Inglaterra quanto na
América), Benjamin Keach (1640-1704, o introdutor da música no meio batista) John
Bunyan (1628-1688, escritor de muitos livros, entre eles “O Peregrino”), além
de outros poderiam ser lembrados.
Quanto à
Convenção ou Assembleia Batista, entre 1624 e 1630, várias igrejas batistas
gerais em Londres atuaram juntas na discussão de doutrinas e na correspondência
com outros crentes. Cada ramo dos batistas ingleses chamava sua organização
nacional de Assembleia Geral. Os batistas gerais, de início, consideravam uma
reunião da Assembléia Geral como se fosse uma reunião da “Igreja Batista
Geral”, com plena autoridade para agir com ações eclesiásticas, mas os
particulares nunca permitiram a uma associação ou a sua Assembleia Geral se
tornar “a Igreja” ou a promover ações eclesiásticas, procurando proteger a
liberdade da igreja local e impedir a denominação de interferir em seus
negócios.
Os
registros históricos da Inglaterra mostram que a União Batista (Baptist
Union), nome dado hoje à convenção que reúne as igrejas batistas na Grã
Bretanha, foi formada em 1832, mas somente em 1891 a organização conseguiu
agregar Batistas Gerais e Particulares. A União tem treze associações regionais
distribuídas no país, cada qual com administração local e suporte ministerial
para as igrejas, procurando atender as suas necessidades. As lideranças
regionais se reúnem durante o ano, buscando ajudar transições pastorais nas
igrejas e acompanhamento dos formandos nos seminários teológicos.
Dentro do
assunto “História Batista”, o site oficial da União informa
que “o moderno movimento batista nasceu no século XVI e é hoje uma
denominação ao redor do mundo, com milhões de crentes adorando em congregações
batistas”.
Procurando resumir cronologicamente os acontecimentos
batistas mais importantes dos bstistas na Inglaterra, temos:
1612 –
A primeira igreja batista em Spitalfields, Londres
1689 – Ato
de Tolerância do governo inglês, permitindo liberdade de culto
1792 –
Fundação da Sociedade Missionária Batista por William Carey, hoje conhecida
como BMS World Mission (assunto a ser ainda abordado)
1812 –
Encontro de um grupo batista na residência do Dr. Rippon, em Londres, para
discutir a formação de uma União Batista
1813 –
Realização da 1ª Assembléia Batista em Londres
1832 –
União Batista definitivamente estabelecida
1854 –
Começo do ministério de Spurgeon, um dos mais famosos pregadores batistas
1855 –
Aparecimento, pela primeira vez, da publicação “O Homem Livre” (The Freeman),
hoje chamado de “Os Tempos Batistas”
1891 –
União de Batistas Gerais e Particulares, formando a atual União Batista da Grã-Bretanha
1905 –
Formação da Aliança Batista Mundial e realização de seu primeiro congresso em
Londres.
Como curiosidade e
ligação entre o presente capítulo e o próximo, é importante lembrar a ligação
histórica entre duas congregações provenientes do separatismo inglês, a de Gainsborough e a de Scrooby, que seguiram o mesmo caminho
para a Holanda, a partir de 1607. Na Holanda, embora mantivessem
correspondência, a congregação de Gainsborough, com a liderança de Smyth e
Helwys, fixou-se em Amsterdam, enquanto a de Scrooby, liderada por Brewster e
Robinson, foi residir em Leyden.
Dois grupos
de puritanos separatistas diferentes, comungando inicialmente dos mesmos ideais
de reforma da igreja, buscando uma aproximação do modelo do Novo Testamento,
refugiados no mesmo país, mas sediados em cidades diferentes, viveram histórias
com finais diferentes. O grupo de Smyth em Amsterdam partiu para a criação da
Congregação da Padaria, que deu origem aos batistas, como já se viu. O grupo de Robinson em Leyden
parecia estar mais preocupado com o destino da nova geração, para quem seus
integrantes viam dificuldades, tanto na vida em um país estrangeiro, com
costumes diferentes, quanto na volta eventual à Inglaterra, onde não havia perspectiva
de mudança no panorama político-religioso. Na Holanda, cultura e língua
eram estranhas e difíceis para a congregação inglesa, além de costumes morais
considerados muito libertinos, influenciando seus filhos que, pouco a pouco, se
tornavam mais holandeses, levando a congregação a temer que ela viesse a ser
extinta como cultura inglesa se ali permanecesse. Por volta de 1617,
Bradford relatou em texto o desencorajamento que a dura vida holandesa estava
provocando em parte da congregação, além da esperança de se encontrar lugar
melhor e mais fácil para viver, bem como o nascente desejo de propagar o
evangelho do Reino de Deus nas distantes terras da América. Com dificuldades
financeiras e falta de grandes oportunidades para o sustento, alguns haviam retornado
para a Inglaterra. Como nem todos os membros da congregação pudessem viajar juntos
com o primeiro grupo, foi decidido que apenas os mais jovens e fortes partiriam
na primeira expedição, ficando os remanescentes para uma segunda viagem quando
fosse possível. Robinson deveria permanecer em Leyden com o grupo maior da
congregação e Brewster lideraria a congregação americana, havendo o
entendimento de que ambas as congregações mantivessem inicialmente um rol de
membros único e uniforme.
Em agosto
de 1620, o Mayflower partiu com pouco mais de cem passageiros,
boa parte dos quais vieram de Leyden, sendo 28 adultos membros da congregação.
Após alguns meses, em dezembro do mesmo ano, com muitos incidentes de viagem, a
viagem chegou ao fim e a colonização da Nova Inglaterra começou. No próximo
capítulo, veremos como surgiram, de forma independente, as primeiras igrejas
batistas nos Estados Unidos da América.
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