26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

3. ORIGEM DOS BATISTAS PARTICULARES


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A segunda origem batista aconteceu ainda na Inglaterra, resultando na Primeira Igreja Batista Particular Inglesa, também surgida do separatismo inglês. Começou com uma congregação conhecida pelos historiadores como “a Igreja JLJ”, segundo o nome dos seus três primeiros pastores (Jacob, Lathrop e Jessey), que ainda não tinha a doutrina batista. O primeiro J é de Jacob.  
Um dos nomes mais importantes na história do separatismo da Igreja da Inglaterra foi Henry Jacob (1563-1624). Jacob era um clérigo ordenado e ativo no movimento de reforma puritana dentro da Igreja Anglicana. Como puritano, Henry Jacob havia assinado a já mencionada “Petição Milenária”, recusada quase que totalmente pelo rei James I. Por seu trabalho pelos dissidentes e por suas discussões por uma reforma moderada dentro da Igreja Anglicana, foi posto na prisão. Após libertação, Jacob exilou-se na Holanda e em Leyden se tornou membro da congregação de John Robinson, que havia também fugido para ali desde 1608. Com seu trabalho missionário, ajudou a estabelecer um bom número de congregações não-separatistas entre 1609 e 1616. Em 1616, Jacob retornou à Inglaterra e começou a pôr em prática seus conceitos de um tipo novo de política congregacional. Seu conceito era de que a autoridade descansava na congregação e em seus membros, não na Igreja Nacional. Em Southwark, Londres, Jacob deu forma a uma igreja nos moldes do Novo Testamento. Foi escolhido então como seu pastor por votação, com oração e imposição de mãos. Essa igreja em Southwark é apontada como a primeira Igreja Congregacional estabelecida e permanente na Inglaterra.
A congregação era composta de separatistas e semi-separatistas, que ocasionalmente ainda tomavam comunhão na Igreja Anglicana. Jacob foi pastor da congregação de 1616 a 1622, tendo viajado para a Virginia em 1624, onde morreu em 1630.
O L da sigla JLJ é de Lathrop, seu 2º pastor. John Lathrop liderou a congregação de 1624 a 1634. Houve dois cismas, um em 1622 e outro em 1633, ocasião na qual a congregação havia crescido muito para se reunir sem riscos. Houve o rebatismo de alguns membros, ainda por aspersão, por julgarem inválido o pedobatismo anglicano recebido. 
O outro J (JLJ) é do 3º pastor, Henry Jessey, que liderou o rebanho de 1637 a 1639, tendo ficado a congregação sem seu líder maior por três anos. Houve novo cisma em 1638, quando foram excluídos seis membros por causa do rebatismo.  A congregação se juntou à de Eaton, então dirigida por John Spilsbury, estando Eaton na cadeia. O grupo resultante aceitou a doutrina do batismo do crente, formando em 1638 a Primeira Igreja Batista Particular Inglesa. Sob a liderança de Praisegod Barebones, os dissidentes ao grupo formaram uma igreja congregacional.
Em 1639 podemos considerar o início da Primeira Igreja Batista Particular, de linha calvinista, com John Spilsbury (1593-1668) como seu pastor e cerca de 20 membros inicialmentecontando entre eles com William Kiffin (1616-1701). A congregação deve ter tido suas reuniões iniciais na rua Broad, Old Gravel Lane, em Wapping. Embora praticando o batismo do crente, não haviam ainda resgatado a imersão. A introdução da imersão como forma de batismo aconteceu ao longo do processo. Henry Jacob, Leonard Busher e Mark Luker, além de outros, defenderam a causa. A congregação de Jessey enviou Richard Blunt para a Holanda para informar-se sobre a imersão. De lá, Blunt retornou com orientações sobre a forma de batismo, tendo batizado a Blacklock e os dois batizaram cerca de 53 outros. A partir de 1644, começaram os batistas particulares a praticar a imersão com base na autoridade bíblica.
Em 1644, já havia pelo menos sete igrejas batistas particulares em Londres, as quais formularam a Primeira Confissão de Fé dessas igrejas, mostrando a diferença entre os particulares e os gerais e mesmo com os anabatistas do continente europeu. Spilsbury, Kiffin e Samuel Richardson muito contribuíram para a elaboração do texto.
Além do restabelecimento da imersão como forma de batismo e da  Primeira Confissão Londrina de 1644, outras contribuições importantes aconteceram com a participação ativa dos batistas particulares: o sacrifício particular de Cristo, a perseverança dos santos, a fé como dom de Deus, uma forte cristologia e a liderança calvinista da congregação local (pastor, mestre, ancião, diácono) são algumas das características do grupo. Além dos nomes já citados, Hanserd Knollys (1598-1691, atuante tanto na Inglaterra quanto na América), Benjamin Keach (1640-1704, o introdutor da música no meio batista) John Bunyan (1628-1688, escritor de muitos livros, entre eles “O Peregrino”), além de outros poderiam ser lembrados.
Quanto à Convenção ou Assembleia Batista, entre 1624 e 1630, várias igrejas batistas gerais em Londres atuaram juntas na discussão de doutrinas e na correspondência com outros crentes. Cada ramo dos batistas ingleses chamava sua organização nacional de Assembleia Geral. Os batistas gerais, de início, consideravam uma reunião da Assembléia Geral como se fosse uma reunião da “Igreja Batista Geral”, com plena autoridade para agir com ações eclesiásticas, mas os particulares nunca permitiram a uma associação ou a sua Assembleia Geral se tornar “a Igreja” ou a promover ações eclesiásticas, procurando proteger a liberdade da igreja local e impedir a denominação de interferir em seus negócios.
Os registros históricos da Inglaterra mostram que a União Batista (Baptist Union), nome dado hoje à convenção que reúne as igrejas batistas na Grã Bretanha, foi formada em 1832, mas somente em 1891 a organização conseguiu agregar Batistas Gerais e Particulares. A União tem treze associações regionais distribuídas no país, cada qual com administração local e suporte ministerial para as igrejas, procurando atender as suas necessidades. As lideranças regionais se reúnem durante o ano, buscando ajudar transições pastorais nas igrejas e acompanhamento dos formandos nos seminários teológicos.
Dentro do assunto “História Batista”, o site oficial da União informa que “o moderno movimento batista nasceu no século XVI e é hoje uma denominação ao redor do mundo, com milhões de crentes adorando em congregações batistas”.
Procurando resumir cronologicamente os acontecimentos batistas mais importantes dos bstistas na Inglaterra, temos:   
1612 – A primeira igreja batista em Spitalfields, Londres
1689 – Ato de Tolerância do governo inglês, permitindo liberdade de culto
1792 – Fundação da Sociedade Missionária Batista por William Carey, hoje conhecida como BMS World Mission (assunto a ser ainda abordado)
1812 – Encontro de um grupo batista na residência do Dr. Rippon, em Londres, para discutir a formação de uma União Batista
1813 – Realização  da 1ª Assembléia Batista em Londres
1832 – União Batista definitivamente estabelecida
1854 – Começo do ministério de Spurgeon, um dos mais famosos pregadores batistas
1855 – Aparecimento, pela primeira vez, da publicação “O Homem Livre” (The Freeman), hoje chamado de “Os Tempos Batistas”
1891 – União de Batistas Gerais e Particulares, formando a atual União Batista da Grã-Bretanha
1905 – Formação da Aliança Batista Mundial e realização de seu primeiro congresso em Londres.
Como curiosidade e ligação entre o presente capítulo e o próximo, é importante lembrar a ligação histórica entre duas congregações provenientes do separatismo inglês, a de Gainsborough e a de Scrooby, que seguiram o mesmo caminho para a Holanda, a partir de 1607. Na Holanda, embora mantivessem correspondência, a congregação de Gainsborough, com a liderança de Smyth e Helwys, fixou-se em Amsterdam, enquanto a de Scrooby, liderada por Brewster e Robinson, foi residir em Leyden.
Dois grupos de puritanos separatistas diferentes, comungando inicialmente dos mesmos ideais de reforma da igreja, buscando uma aproximação do modelo do Novo Testamento, refugiados no mesmo país, mas sediados em cidades diferentes, viveram histórias com finais diferentes. O grupo de Smyth em Amsterdam partiu para a criação da Congregação da Padaria, que deu origem aos batistas, como já se viu. O grupo de Robinson em Leyden parecia estar mais preocupado com o destino da nova geração, para quem seus integrantes viam dificuldades, tanto na vida em um país estrangeiro, com costumes diferentes, quanto na volta eventual à Inglaterra, onde não havia perspectiva de mudança no panorama político-religioso. Na Holanda, cultura e língua eram estranhas e difíceis para a congregação inglesa, além de costumes morais considerados muito libertinos, influenciando seus filhos que, pouco a pouco, se tornavam mais holandeses, levando a congregação a temer que ela viesse a ser extinta como cultura inglesa se ali permanecesse. Por volta de 1617, Bradford relatou em texto o desencorajamento que a dura vida holandesa estava provocando em parte da congregação, além da esperança de se encontrar lugar melhor e mais fácil para viver, bem como o nascente desejo de propagar o evangelho do Reino de Deus nas distantes terras da América. Com dificuldades financeiras e falta de grandes oportunidades para o sustento, alguns haviam retornado para a Inglaterra. Como nem todos os membros da congregação pudessem viajar juntos com o primeiro grupo, foi decidido que apenas os mais jovens e fortes partiriam na primeira expedição, ficando os remanescentes para uma segunda viagem quando fosse possível. Robinson deveria permanecer em Leyden com o grupo maior da congregação e Brewster lideraria a congregação americana, havendo o entendimento de que ambas as congregações mantivessem inicialmente um rol de membros único e uniforme.
Em agosto de 1620, o Mayflower partiu com pouco mais de cem passageiros, boa parte dos quais vieram de Leyden, sendo 28 adultos membros da congregação. Após alguns meses, em dezembro do mesmo ano, com muitos incidentes de viagem, a viagem chegou ao fim e a colonização da Nova Inglaterra começou. No próximo capítulo, veremos como surgiram, de forma independente, as primeiras igrejas batistas nos Estados Unidos da América.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...