“... Ide por todo o
mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for
batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” (Marcos 16.
15-16)
A Companhia das
Índias Orientais usava muitos navios em suas viagens pelo mundo, precisando de
uma grande padaria para prover suas embarcações com biscoitos e produtos para
suas longas viagens. Na parte mais nova da cidade de Amsterdam, na Holanda, a
companhia havia erigido sua padaria, no final do século XVI, em um dos lotes
ainda vagos às margens do rio Amstel, uma construção bastante ampla. O prédio
foi ocupado durante algum tempo pela Companhia e, em 1603, ele foi alugado como
Arsenal da Cidade e então, talvez, a padaria tenha sido mudada de lá. Dois anos
após, casas foram construídas em volta do local e, a partir de então, a vizinha
Bakhuisstraat (Rua da Padaria), foi renomeada como Bakkersstraat (Rua do
Padeiro), vindo a propriedade às mãos de Jan Munter, tornando-se, a partir de
então, conhecida como “a padaria de Munter”, sendo a
propriedade assim designada nos registros do Consistório da Congregação
Menonita de Amsterdam. Jan Munter era membro da Igreja Menonita Waterlander.
Ano de 1609: um grupo
de pessoas, ingleses dissidentes da Igreja Anglicana, perseguidos em sua terra
por causa de suas convicções religiosas e refugiados em Amsterdam, na Holanda,
reuniram-se na padaria de Jan Munter, lugar no qual iniciaram uma nova congregação,
pois, com base em Marcos 16 e em outros textos bíblicos, acreditavam que uma
igreja local deveria ser formada por crentes convertidos e então batizados.
Como haviam todos sido batizados como crianças em suas paróquias anglicanas,
crendo que aquele batismo não fora biblicamente válido, passaram novamente pelo
ato, primeiro o líder espiritual, John Smyth, depois toda a congregação.
Organizou-se assim, oficialmente, uma igreja local de adultos que haviam crido
no evangelho de Cristo e seguiam sua crença com o batismo, um embrião batista
em formação.
Pouco tempo depois, talvez no mesmo ano, Smyth arrependeu-se de ter iniciado
aquele trabalho daquela forma, achando que todos deveriam solicitar admissão
junto à Igreja Menonita Waterlander da cidade, considerada então por ele como
uma igreja verdadeira. Grande parte da congregação foi convencida
de que aquele era mesmo o melhor caminho a ser tomado, mas uma dezena de
irmãos, sob a liderança leiga de Thomas Helwys, discordou daquela orientação,
crendo que o pensamento inicial estava certo e que a congregação deveria
prosseguir. A história batista tem como uma de suas características o
divisionismo e isto parece acontecer desde a sua origem. A padaria onde a
congregação se reunia, de propriedade de Jan Munter, um menonita, havia sido
cedida a pedido de John Smyth, o primeiro pastor batista que acabava de
solicitar sua aceitação junto aos irmãos da igreja local. O pequeno grupo de
Helwys teve que achar outro local para se reunir, já que os seguidores de Smyth
continuaram com suas reuniões na padaria, enquanto aguardavam a aceitação dos
menonitas e mesmo depois, mantendo, assim, sua fé com cultos na língua inglesa.
A padaria de Jan
Munter foi, portanto, muito importante para aquele grupo de refugiados ingleses,
pois foi lá que nasceu a idéia de uma congregação a partir da experiência de
conversão a Cristo por parte do pecador, seguida de seu batismo. Ideais como
autonomia da comunidade local, liberdade religiosa e separação entre igreja e
estado começaram a ser ali vivenciados. Muitas das práticas neotestamentárias,
como o restabelecimento da imersão como forma de batismo, por exemplo, ainda
seriam introduzidas na denominação batista ao longo da história, que começava
com aquele pequeno grupo de pessoas. Este início, porém, mostra os batistas
como um grupo que não manteve do catolicismo (ou mesmo do anglicanismo)
estruturas, procedimentos e doutrinas não-bíblicas, como muitas denominações
protestantes mantiveram. Como cristãos sinceros, desde o início, os batistas
buscaram na Palavra de Deus a fonte de inspiração e orientação para a volta à
simplicidade do evangelho de Cristo e da Igreja, tão desfigurada como
organização após dezesseis séculos de cristianismo.
Foi assim que começou
a nossa história batista: com uma congregação ainda anônima organizada em uma
padaria, congregação essa cuja linha doutrinária ainda viria a ser definida em
muitos detalhes, mas que acreditava firmemente ser aquele o caminho traçado por
Deus para a vivência do evangelho de Cristo como Igreja, buscando uma linha
neotestamentária. A divergência havida não anula a importância da liderança de
John Smyth, desde o início na Inglaterra até o momento da organização, bem como
da firmeza da liderança de Helwys na continuação da condução daquele pequeno
grupo, o “remanescente fiel” batista.
Quantos eram e quais
foram os membros fundadores da primeira congregação batista existente no mundo?
Este é o assunto do próximo segmento.
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