26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

6 - O REMANESCENTE FIEL

“Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.” Romanos 11.5
           
O trecho a seguir foi extraído do texto “Lições da Padaria”, de David Coffey, presidente da Aliança Batista Mundial em 2009, um dos primeiros líderes batistas atuais a usar a expressão “congregação da padaria” com referência ao embrião inicial batista:
“Em Amsterdam, a recém-formada congregação da padaria criou uma comunidade cujo louvor e vida em conjunto refletiam mais verdadeiramente o modelo da igreja de crentes do Novo Testamento. Os estudos e conversas da comunidade eventualmente levavam à rejeição da prática do batismo infantil e a uma recuperação da ênfase no batismo do Novo Testamento, que é o batismo dos crentes na base do arrependimento e fé no Senhor Jesus Cristo.”
Assim, John Smyth, que era formado em teologia e havia sido ministro anglicano, batizou-se a si mesmo e aos demais ingleses, num grupo de cerca de cinquenta pessoas. Infelizmente, a “congregação da padaria” permaneceu batista durante muito pouco tempo, talvez menos de um ano após a organização. O que motivou a separação entre os seguidores de Smyth e os de Helwys?
A partir de uma carta preservada como fonte histórica, datada de 12 de março de 1609, podemos deduzir que John Smyth e seus seguidores se arrependeram de seu batismo e que Smyth “confessou seu erro” diante da congregação em janeiro ou fevereiro de 1609, segundo o historiador Scheffer; por essa razão, o grupo foi afastado da recém-criada igreja. Os anos citados por Scheffer podem levar à suposição de que a congregação na padaria tenha sido organizada em 1608, no segundo semestre, e não 1609, conforme é aceito pela maioria dos historiadores.
Dez pessoas permaneceram firmes na fé de que o que havia sido ali realizado até então era de acordo com a vontade de Deus. Thomas Helwys, John Murton, William Pygott e Thomas Seamer, além de mais seis irmãos ou irmãs (cuja identidade não é conhecida), mantiveram-se firmes no propósito que havia levado à organização inicial. Helwys opôs-se fortemente à visão de Smyth, segundo a qual não havia sido válida a organização em igreja da congregação na padaria de Jan Munter, insistindo o líder leigo, em vez disso, em que a formação de uma igreja neotestamentária dependia somente da fidelidade às instruções bíblicas. Os irmãos remanescentes decidiram não somente continuar a viver aquele projeto em Amsterdam, mas também, reunidas as condições necessárias, retornar à Inglaterra para testemunharem do evangelho segundo suas novas crenças, que não eram tão novas assim, mas tinham dezesseis séculos de história, já que eram baseadas no Novo Testamento e inspiradas na Igreja Primitiva e no evangelho apostólico.
Enquanto ainda na Holanda, Helwys resolveu dar suporte teológico à continuação do trabalho de sua congregação. “Uma Declaração de Fé do Povo Inglês que permaneceu em Amsterdam”, publicado na Holanda em 1611, tem muito conteúdo tirado dos escritos de Smyth antes da adesão aos menonitas, mas opõe-se a posturas defendidas por ele após sua decisão. Em vinte e sete artigos, o texto procura cobrir os itens essenciais da fé daquele remanescente que permaneceu fiel aos ideais batistas de congregação formada por crentes batizados após a conversão. Nele, Helwys e o grupo que o acompanhou afirmam vários princípios que, durante quatro séculos, têm continuado a caracterizar a identidade batista:
ü  Membresia da igreja baseada em conversão pessoal e no batismo do crente;
ü  independência de cada igreja local;
ü  governo congregacional da igreja;
ü  apoio a completa liberdade religiosa;
ü  oficiais (pastores e diáconos) selecionados pela congregação local.
A nova igreja não tinha grandes objeções aos menonitas e os considerava como irmãos na fé. Seus membros mantiveram ainda relações próximas com eles, mesmo depois da volta à Inglaterra, mas não reconheceram que tinham errado no modo do batismo que havia sido praticado; fazer isso seria desonrar a legalidade da existência de sua igreja. Levando em conta a disciplina eclesiástica, Helwys e seus seguidores excluíram Smyth e todos os demais do rol de membros, decisão bastante difícil de ser tomada. Dois anos após o fato, Helwys lamentou o ocorrido, enaltecendo as qualidades de Smyth, mas declarando ter chegado à conclusão de que não podiam mais compactuar com suas opiniões, tendo sido levados àquela decisão extrema.
É interessante observar-se que a minoria (dez membros) excluiu do rol da igreja a maioria (cerca de quarenta pessoas), indo, porém, se reunir em outro lugar a partir daquele momento, pois a padaria havia sido cedida em um acordo entre Smyth e Munter. Como Smyth havia aderido aos menonitas, sendo Munter – seu proprietário – membro da Igreja Menonita Waterlander, o grupo que deu sequência à chamada “congregação da padaria” nos moldes batistas deixou de lá se reunir.
O que aconteceu com Thomas Helwys e seus nove acompanhantes? Após a separação de John Smyth e seu grupo, a igreja, de março de 1609 até 8 de julho de 1611 (cerca de dois anos e meio), passou a se reunir provavelmente na casa de um de seus membros. Os historiadores afirmam que o período de permanência do pequeno grupo na Holanda após a separação havida não foi muito tranquilo, com conflitos surgidos entre as convicções batistas nascentes e as proposições da Igreja Menonita.
Assim, o “remanescente fiel”, embrião batista inglês em solo holandês, foi deslocado da padaria, onde começara, para uma casa que acolheu o grupo, para manter a fé e o culto dos irmãos. Da padaria de Jan Munter para uma casa acolhedora: foi assim que começou a nossa história batista, com uma congregação ainda anônima, cuja linha doutrinária ainda viria a ser definida em muitos detalhes, mas que acreditava firmemente ser aquele o caminho traçado por Deus para a vivência do evangelho de Cristo como Igreja, buscando a volta a uma linha neotestamentária.
A expressão “remanescente fiel” aparece na Bíblia diversas vezes (uma delas em Romanos, conforme citado no início), refletindo um pequeno grupo de pessoas que, separando-se de um todo que se corrompeu, decidiu-se a continuar firme na sua fé. Embora tendo o grupo maior excluído do meio batista continuado como cristãos, ligando-se a uma igreja menonita, o grupo inicial merece a denominação “remanescente fiel batista”, pois foi graças a esse pequeno grupo que a igreja batista passou a existir, sendo plantada e crescendo em solo inglês.  Como surgiu, afinal, a 1ª Igreja Batista Inglesa, aquela que deu origem a uma expansão que continua até hoje? Este é o assunto do próximo fascículo.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...