26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

10 - OS BATISTAS PARTICULARES

       "Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.” Romanos 8.33

De acordo com alguns historiadores, a primeira “Igreja Batista Particular” foi fundada no final da década de 1630. Assim diz o historiador Cairns:

“O grupo mais forte de batistas calvinistas ou particulares originou-se de um cisma da congregação de Henry Jacob em Londres, entre 1633 e 1638. Eles defendiam o batismo dos crentes por imersão e uma teologia calvinista que enfatizava a expiação limitada (só para os eleitos). Foi essa congregação, primeiro dirigida por John Spilsbury, que, a partir de 1638, se tornou a mais influente do movimento batista inglês. Os antecedentes do movimento batista norte-americano podem ser encontrados nesse grupo.”

Henry Jacob (1563-1624), citado por Cairns, é um dos nomes mais importantes na história das origens do congregacionalismo inglês. Foi um dos participantes da Petição Milenar a James I, em 1603, solicitando mudanças na igreja anglicana. Clérigo ordenado e ativo no movimento de reforma puritana dentro da Igreja da Inglaterra, foi preso, exilou-se na Holanda (onde participou com John Robinson da congregação de Leyden, assunto ainda a ser abordado) e, voltando à Inglaterra, começou a pôr em prática seus conceitos de um tipo novo de política congregacional, mostrando tradições mais avançadas de separatismo ao defender que a autoridade na escolha de seu pastor era da congregação e de seus membros, não da Igreja Nacional, bem como na determinação de programas e na administração dos negócios da igreja. Em 1615, em Southwark, Jacob formou uma congregação nos moldes do Novo Testamento, apontada como a primeira Igreja Congregacional estabelecida e permanente na Inglaterra.
Desde a formação da congregação de Henry Jacob, o assunto pedobatismo era discutido nas congregações separatistas, coisa que ocasionou cisma na igreja.  Por volta de 1633, criam eles que o batismo não era administrado de forma correta quando aplicado às crianças, julgando alguns que aquele batismo deveria ser considerado inválido. Assim sendo, muitos receberam como adultos outro batismo no pastorado de John Spilsbury. Em 1639, outra congregação foi formada, a qual se reunia em Crutched Fryars. Segundo os historiadores, foi essa a primeira igreja batista particular na Inglaterra.
O calvinismo, movimento que influenciou os batistas particulares, havia dado origem à igreja presbiteriana a partir de 1572. Calvino entendia que o homem é absolutamente incapaz de ir a Cristo por si só, pois está morto espiritualmente e precisa (antes de qualquer ação de sua parte) ser vivificado em seu espírito e renovado em sua vontade; cria ainda que Deus escolheu, de forma soberana e graciosa, aqueles a quem iria salvar, sem que nada neles os habilitasse a isso; afirmava ele que Jesus Cristo morreu para tornar certa a salvação daqueles que Deus havia escolhido na eternidade, os eleitos, chamados de forma eficaz, de modo que todos sejam salvos. Finalmente, creem os calvinistas que todos os que foram verdadeiramente regenerados irão perseverar em sua vida de fé, sem perda da salvação.
Numa tentativa de melhor definir as idéias de Calvino, comparadas com as de Armínio vistas no fascículo anterior, veja-se o esquema a seguir: 

Arminianismo
BATISTAS GERAIS
ü  Livre arbítrio
ü  Eleição condicional  
ü  Expiação Ilimitada
ü  Graça resistível 
ü  Perda da salvação

Calvinismo 
BATISTAS PARTICULARES
ü  Total depravação                 
ü  Eleição incondicional         
ü  Limitada expiação                 
ü  Irresistível graça                 
ü  Perseverança dos santos  

Devido à influência calvinista, os batistas particulares rejeitavam de início qualquer relacionamento com John Smyth ou os primitivos batistas gerais. Por volta de 1643, aconteceu a assinatura da Confissão de Fé Comum, com sete congregações batistas particulares participantes. A Primeira Confissão de Fé de Londres (1644) tornou-se posteriormente a declaração religiosa para os Batistas Particulares londrinos, documento esse que se antecipou à Confissão de Fé deWestminster de 1646. Apesar de não esgotar o assunto, a confissão foi um forte argumento que ajudou a unir os primitivos batistas particulares. Uma segunda confissão foi desenvolvida em 1677, refletindo a Confissão de Westminster (1647) e a Declaração de Savoy (1658), confissões de fé essas que lidavam com assuntos como que tipo de poder as associações representativas nas igrejas tinham sobre as igrejas locais, bem como estabeleciam uma posição sobre o batismo de crentes, ao invés de manter o batismo infantil.
Apesar de a história batista ter seu início com o movimento dos batistas gerais, é, na verdade, aos batistas particulares que a maioria dos batistas modernos deve a maior parte de suas doutrinas e práticas. Como a história afirma, os batistas gerais sempre representaram uma pequena parte da vida batista na Inglaterra, e uma parte menor ainda na América. Por volta de 1644, os batistas particulares contavam, como já se viu, pelo menos com sete igrejas. O movimento batista continuou a crescer e, em 1660, havia 300 igrejas na Inglaterra, considerando-se os gerais e os particulares.
Não há, portanto, uma ligação direta inicial entre os batistas gerais e os particulares, tendo cada grupo tido sua origem a partir do separatismo puritano da igreja anglicana. Embora com origens separadas, cada grupo contribuiu para uma continuação da história batista na Inglaterra, bem como na vinda dos batistas para o Novo Mundo.
Apesar de existirem ainda hoje alguns grupos que neguem sua ligação ao grupo inicial de Smyth, o fato é que a história acabou por juntar, de certa forma, as igrejas oriundas do início geral de Smyth com aquelas congregações particulares que se iniciaram com Spilsbury. Nenhuma dos grupos, porém, levava naquele início o nome de “batista”, que acabou por dar nome às igrejas mais tarde. Aliás, o nome “batista” está relacionado com a introdução da imersão como forma de batismo na história dos batistas, como veremos no próximo capítulo.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...