"Quem
fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem
os justifica.” Romanos
8.33
De acordo com alguns historiadores,
a primeira “Igreja Batista Particular” foi fundada no final da década de 1630.
Assim diz o historiador Cairns:
“O grupo mais forte
de batistas calvinistas ou particulares originou-se de um cisma da congregação
de Henry Jacob em Londres, entre 1633 e 1638. Eles defendiam o batismo dos
crentes por imersão e uma teologia calvinista que enfatizava a expiação
limitada (só para os eleitos). Foi essa congregação, primeiro dirigida por John
Spilsbury, que, a partir de 1638, se tornou a mais influente do movimento
batista inglês. Os antecedentes do movimento batista norte-americano podem ser
encontrados nesse grupo.”
Henry Jacob
(1563-1624), citado por Cairns, é um dos nomes mais importantes na história das
origens do congregacionalismo inglês. Foi um dos participantes da Petição
Milenar a James I, em 1603, solicitando mudanças na igreja anglicana. Clérigo
ordenado e ativo no movimento de reforma puritana dentro da Igreja da
Inglaterra, foi preso, exilou-se na Holanda (onde participou com John Robinson
da congregação de Leyden, assunto ainda a ser abordado) e, voltando à
Inglaterra, começou a pôr em prática seus conceitos de um tipo novo de política
congregacional, mostrando tradições mais avançadas de separatismo ao defender
que a autoridade na escolha de seu pastor era da congregação e de seus membros,
não da Igreja Nacional, bem como na determinação de programas e na
administração dos negócios da igreja. Em 1615, em Southwark, Jacob formou uma
congregação nos moldes do Novo Testamento, apontada como a primeira Igreja
Congregacional estabelecida e permanente na Inglaterra.
Desde a formação da
congregação de Henry Jacob, o assunto pedobatismo era discutido nas
congregações separatistas, coisa que ocasionou cisma na igreja. Por volta
de 1633, criam eles que o batismo não era administrado de forma correta quando
aplicado às crianças, julgando alguns que aquele batismo deveria ser
considerado inválido. Assim sendo, muitos receberam como adultos outro batismo
no pastorado de John Spilsbury. Em 1639, outra congregação foi formada, a qual
se reunia em Crutched Fryars. Segundo os historiadores, foi essa a primeira
igreja batista particular na Inglaterra.
O calvinismo,
movimento que influenciou os batistas particulares, havia dado origem à igreja
presbiteriana a partir de 1572. Calvino entendia que o homem é absolutamente
incapaz de ir a Cristo por si só, pois está morto espiritualmente e precisa
(antes de qualquer ação de sua parte) ser vivificado em seu espírito e renovado
em sua vontade; cria ainda que Deus escolheu, de forma soberana e graciosa,
aqueles a quem iria salvar, sem que nada neles os habilitasse a isso; afirmava
ele que Jesus Cristo morreu para tornar certa a salvação daqueles que Deus
havia escolhido na eternidade, os eleitos, chamados de forma eficaz, de modo
que todos sejam salvos. Finalmente, creem os calvinistas que todos os que foram
verdadeiramente regenerados irão perseverar em sua vida de fé, sem perda da
salvação.
Numa tentativa de
melhor definir as idéias de Calvino, comparadas com as de Armínio vistas no
fascículo anterior, veja-se o esquema a seguir:
Arminianismo
BATISTAS GERAIS
ü Livre arbítrio
ü Eleição condicional
ü Expiação Ilimitada
ü Graça resistível
ü Perda da salvação
Calvinismo
BATISTAS PARTICULARES
ü Total depravação
ü Eleição
incondicional
ü Limitada
expiação
ü Irresistível
graça
ü Perseverança dos
santos
Devido à influência
calvinista, os batistas particulares rejeitavam de início qualquer
relacionamento com John Smyth ou os primitivos batistas gerais. Por volta de
1643, aconteceu a assinatura da Confissão de Fé Comum, com sete congregações
batistas particulares participantes. A Primeira Confissão de Fé de
Londres (1644) tornou-se posteriormente a declaração religiosa para os
Batistas Particulares londrinos, documento esse que se antecipou à Confissão
de Fé deWestminster de 1646. Apesar de não esgotar o assunto, a
confissão foi um forte argumento que ajudou a unir os primitivos batistas
particulares. Uma segunda confissão foi desenvolvida em 1677, refletindo a
Confissão de Westminster (1647) e a Declaração de Savoy (1658), confissões de
fé essas que lidavam com assuntos como que tipo de poder as associações
representativas nas igrejas tinham sobre as igrejas locais, bem como
estabeleciam uma posição sobre o batismo de crentes, ao invés de manter o
batismo infantil.
Apesar de a história
batista ter seu início com o movimento dos batistas gerais, é, na verdade, aos
batistas particulares que a maioria dos batistas modernos deve a maior parte de
suas doutrinas e práticas. Como a história afirma, os batistas gerais sempre
representaram uma pequena parte da vida batista na Inglaterra, e uma parte
menor ainda na América. Por volta de 1644, os batistas particulares contavam,
como já se viu, pelo menos com sete igrejas. O movimento batista continuou a
crescer e, em 1660, havia 300 igrejas na Inglaterra, considerando-se os gerais
e os particulares.
Não há, portanto, uma
ligação direta inicial entre os batistas gerais e os particulares, tendo cada
grupo tido sua origem a partir do separatismo puritano da igreja anglicana.
Embora com origens separadas, cada grupo contribuiu para uma continuação da
história batista na Inglaterra, bem como na vinda dos batistas para o Novo
Mundo.
Apesar de existirem
ainda hoje alguns grupos que neguem sua ligação ao grupo inicial de Smyth, o
fato é que a história acabou por juntar, de certa forma, as igrejas oriundas do
início geral de Smyth com aquelas congregações particulares que se iniciaram com Spilsbury.
Nenhuma dos grupos, porém, levava naquele início o nome de “batista”, que
acabou por dar nome às igrejas mais tarde. Aliás, o nome “batista” está
relacionado com a introdução da imersão como forma de batismo na história dos
batistas, como veremos no próximo capítulo.
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