26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

9 - OS BATISTAS GERAIS

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens...” Tito 2.11

A congregação de Thomas Helwys e John Murton iniciou uma linha de igrejas em solo inglês que seria mais tarde conhecida como os “Batistas Gerais”. John Murton tinha sido um comerciante de peles em Gainsborough-on-Trent, tornando-se um seguidor de John Smyth enquanto na Holanda, e retornando à Inglaterra como um componente do grupo de Helwys. No período em que o líder esteve na prisão, a congregação deve ter sofrido perseguição, tendo que passar algum tempo, talvez, na clandestinidade. Murton tornou-se o líder da igreja após a morte de Helwys (cerca do ano 1616), tendo dado continuidade às linhas básicas estabelecidas.
Por volta de 1624, parece que a congregação estava vivendo momentos difíceis. Nessa época, foi levantada por Elias Tookey e alguns membros a questão da magistratura. Pessoas que trabalhavam para o governo e eventualmente portavam armas por causa de sua função eram consideradas corruptas pelo grupo de Tookey. Havia forte influência anabatista no grupo e o assunto já havia aparecido anteriormente, sob a liderança de Helwys, que defendeu a continuidade daquele grupo de pessoas como membros na igreja. Após deliberação da assembléia, a questão da magistratura foi resolvida com a manutenção dos seus integrantes na igreja e exclusão de Elias Tookey e outras dezesseis pessoas que o seguiam.
John Murton, além das qualidades de liderança, mostrou também talento de escritor, conforme comprovam suas obras. Ele publicou em 1615 um texto chamado“Perseguição por religião julgada e condenada, em um discurso entre um anticristão e um cristão”; em 1620, outro texto sobre predestinação intitulado “Uma descrição do que Deus tem predestinado concernente ao homem”; e, em seguida, um elaborado pedido ao Rei por liberdade de religião, com o subtítulo “Uma súplica muito humilde de muitos dos leais súditos dos reis, que são perseguidos somente por diferirem em religião”. Apesar da feroz perseguição pela igreja estatal, a congregação contava com cerca de cento e cinquenta membros por volta da metade da década de 1620, ocasião na qual os dezesseis membros seguidores de Tookey foram excluídos. A igreja mantinha correspondência com os menonitas de Amsterdam, conforme atestam cartas de 1624 e 1625 preservadas nos registros. Pode ter acontecido que alguns membros da igreja de Smyth da antiga “congregação da padaria” em Amsterdam, de volta à Inglaterra, tenham se juntado às congregações batistas já existentes, mas as informações são imprecisas.
             Houve, na mesma década de 1620, uma tentativa de volta ao batismo infantil entre os batistas gerais, tentando agradar a uma parte da congregação. A maioria, no entanto, continuou firme na defesa do batismo adulto do convertido, o qual foi mantido.
As Igrejas Batistas decorrentes do trabalho inicial de Helwys e Murton passaram a ser chamadas de “Batistas Gerais”, por sua tônica fortemente anticalvinista. Pregavam uma mensagem de salvação universal arminiana ou “de livre arbítrio”, teologia desenvolvida por Jacobus Arminius (1560-1609). O arminianismo entende que o homem tem livre-arbítrio, pelo qual pode crer e aceitar a Cristo livremente, para depois ser regenerado; crê ainda que Deus escolheu aqueles que ele, pela sua presciência, viu que iriam responder com fé à dádiva do evangelho; seu ensino diz que Jesus morreu para tornar possível a salvação a todos os homens; a graça, segundo o arminianismo, pode ser resistida por aqueles que não creem; crentes nascidos de novo podem vir a cair da fé e a perder a salvação. A salvação estendida a todos os homens em geral é o item que define o nome de batistas gerais. Essas igrejas encontraram muita aceitação entre as classes mais pobres de Londres e nas áreas rurais da Inglaterra. Os Batistas Gerais aceitavam a salvação por boas obras e a separação entre igreja e estado. Incorporaram a estrutura administrativa da igreja formada de Anciãos (ou pastores) e Diáconos, como defendia inicialmente John Smyth, bem como praticavam o batismo adulto, com forte ênfase na salvação pessoal individual.
Até a década de 1640, as congregações batistas gerais se espalharam através da Inglaterra e, em 1641, uma reunião geral foi realizada em Whitechapel, Londres, na busca de uma organização geral, semelhante à atual ideia de convenção. São estimadas pelos historiadores cerca de cinquenta congregações ativas por volta de 1650; eram congregações mais abertas e menos estruturadas do que outros grupos independentes. Os batistas gerais sofreram por causa de suas características, já que seus pregadores itinerantes eram considerados criadores de confusão por muitas autoridades civis e eclesiásticas através da Inglaterra, sendo, porém, muito populares entre o povo comum.
Os batistas atuais tiveram seu início nos batistas gerais, cuja origem se liga ao embrião batista de Amsterdam, trazido de volta à Inglaterra e plantado em solo inglês, com começo em Spitalfield. A influência anabatista e de Jacob Arminius era bastante forte, tendo a congregação surgido à sombra da forte igreja menonita holandesa. Opondo-se à visão geral arminiana dos primeiros batistas, surgiram, pouco menos de 30 anos depois, os batistas particulares, assunto do próximo fascículo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...