“Porque
a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens...” Tito
2.11
A congregação de
Thomas Helwys e John Murton iniciou uma linha de igrejas em solo inglês que
seria mais tarde conhecida como os “Batistas Gerais”. John Murton tinha
sido um comerciante de peles em Gainsborough-on-Trent, tornando-se um seguidor
de John Smyth enquanto na Holanda, e retornando à Inglaterra como um componente
do grupo de Helwys. No período em que o líder esteve na prisão, a congregação
deve ter sofrido perseguição, tendo que passar algum tempo, talvez, na
clandestinidade. Murton tornou-se o líder da igreja após a morte de Helwys
(cerca do ano 1616), tendo dado continuidade às linhas básicas estabelecidas.
Por volta de 1624,
parece que a congregação estava vivendo momentos difíceis. Nessa época, foi
levantada por Elias Tookey e alguns membros a questão da magistratura.
Pessoas que trabalhavam para o governo e eventualmente portavam armas por causa
de sua função eram consideradas corruptas pelo grupo de Tookey. Havia forte
influência anabatista no grupo e o assunto já havia aparecido anteriormente,
sob a liderança de Helwys, que defendeu a continuidade daquele grupo de pessoas
como membros na igreja. Após deliberação da assembléia, a questão da
magistratura foi resolvida com a manutenção dos seus integrantes na igreja e
exclusão de Elias Tookey e outras dezesseis pessoas que o seguiam.
John Murton, além das
qualidades de liderança, mostrou também talento de escritor, conforme comprovam
suas obras. Ele publicou em 1615 um texto chamado“Perseguição por religião
julgada e condenada, em um discurso entre um anticristão e um cristão”; em
1620, outro texto sobre predestinação intitulado “Uma descrição do que
Deus tem predestinado concernente ao homem”; e, em seguida, um elaborado
pedido ao Rei por liberdade de religião, com o subtítulo “Uma súplica
muito humilde de muitos dos leais súditos dos reis, que são perseguidos somente
por diferirem em religião”. Apesar da feroz perseguição pela igreja
estatal, a congregação contava com cerca de cento e cinquenta membros por volta
da metade da década de 1620, ocasião na qual os dezesseis membros seguidores de
Tookey foram excluídos. A igreja mantinha correspondência com os menonitas de
Amsterdam, conforme atestam cartas de 1624 e 1625 preservadas nos registros.
Pode ter acontecido que alguns membros da igreja de Smyth da antiga
“congregação da padaria” em Amsterdam, de volta à Inglaterra, tenham se juntado
às congregações batistas já existentes, mas as informações são imprecisas.
Houve, na mesma década de 1620, uma tentativa de volta ao batismo
infantil entre os batistas gerais, tentando agradar a uma parte da congregação.
A maioria, no entanto, continuou firme na defesa do batismo adulto do
convertido, o qual foi mantido.
As Igrejas Batistas
decorrentes do trabalho inicial de Helwys e Murton passaram a ser chamadas
de “Batistas Gerais”, por sua tônica fortemente anticalvinista.
Pregavam uma mensagem de salvação universal arminiana ou “de livre arbítrio”,
teologia desenvolvida por Jacobus Arminius (1560-1609). O arminianismo entende
que o homem tem livre-arbítrio, pelo qual pode crer e aceitar a Cristo
livremente, para depois ser regenerado; crê ainda que Deus escolheu aqueles que
ele, pela sua presciência, viu que iriam responder com fé à dádiva do
evangelho; seu ensino diz que Jesus morreu para tornar possível a salvação a
todos os homens; a graça, segundo o arminianismo, pode ser resistida por
aqueles que não creem; crentes nascidos de novo podem vir a cair da fé e a
perder a salvação. A salvação estendida a todos os homens em geral é
o item que define o nome de batistas gerais. Essas igrejas
encontraram muita aceitação entre as classes mais pobres de Londres e nas áreas
rurais da Inglaterra. Os Batistas Gerais aceitavam a salvação por boas obras e
a separação entre igreja e estado. Incorporaram a estrutura administrativa da
igreja formada de Anciãos (ou pastores) e Diáconos, como defendia inicialmente
John Smyth, bem como praticavam o batismo adulto, com forte ênfase na salvação
pessoal individual.
Até a década de 1640,
as congregações batistas gerais se espalharam através da Inglaterra e, em 1641,
uma reunião geral foi realizada em Whitechapel, Londres, na busca de uma
organização geral, semelhante à atual ideia de convenção. São estimadas pelos historiadores
cerca de cinquenta congregações ativas por volta de 1650; eram congregações
mais abertas e menos estruturadas do que outros grupos independentes. Os
batistas gerais sofreram por causa de suas características, já que seus
pregadores itinerantes eram considerados criadores de confusão por
muitas autoridades civis e eclesiásticas através da Inglaterra, sendo, porém,
muito populares entre o povo comum.
Os batistas atuais
tiveram seu início nos batistas gerais, cuja origem se liga ao embrião batista
de Amsterdam, trazido de volta à Inglaterra e plantado em solo inglês, com
começo em Spitalfield. A influência anabatista e de Jacob Arminius era bastante
forte, tendo a congregação surgido à sombra da forte igreja menonita holandesa.
Opondo-se à visão geral arminiana dos primeiros batistas, surgiram, pouco menos
de 30 anos depois, os batistas particulares, assunto do próximo
fascículo.
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