26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

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As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

14 - OS BATISTAS E O "MAYFLOWER"

Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo.” (João 18.36b)

Os puritanos alimentaram, durante algum tempo, a esperança de verem concretizadas na Igreja da Inglaterra as reformas que o grupo de exilados viu acontecendo no continente europeu, como reflexo da obra de Lutero e Calvino. Ansiavam pelo dia em que todos os “trapos do papismo” teriam sido extirpados da igreja oficial de seu país. Por isso, permaneceram aguardando e trabalhando pelas reformas. No entanto, tanto Elizabeth I quanto James I estavam mais preocupados em governar e administrar tudo politicamente, contrariando o ideal puritano de reformas mais profundas.
Em abril de 1603, o rei James I recebeu a "Petição Milenária", na qual os puritanos faziam pedidos de mudança, o que provocou a convocação de uma conferência em Hampton Court entre bispos e puritanos, acontecida em janeiro de 1604, com a presença do rei. No encontro, nenhuma das mudanças foi atendida, exceto a permissão para elaboração e impressão de uma nova tradução da Bíblia para a língua inglesa, a versão King James. A partir daí, o Separatismo aumentou e John Smyth, ex-clérigo da igreja estabelecida, tornou-se pastor de uma congregação em Gainsborough. Outras congregações foram formadas, uma delas na casa de William Brewster, em Scrooby, dirigida por John Robinson.
Sentindo o peso da perseguição, os membros das duas congregações, a de Gainsborough, e a de Scrooby, seguiram o mesmo caminho para a Holanda, a partir de 1607. William Bradford, então com 12 anos de idade, tornou-se um ativo membro da congregação de Scrooby, ele que, mais tarde, seria o primeiro governador da colônia de Plymouth, na Nova Inglaterra. Na Holanda, embora os grupos ainda mantivessem correspondência, a congregação de Smyth e Helwys fixou-se em Amsterdam, enquanto o de Brewster e Robinson passou a residir em Leyden.
Dois grupos de puritanos separatistas diferentes, comungando inicialmente dos mesmos ideais de reforma da igreja, buscando uma aproximação do modelo do Novo Testamento, refugiados no mesmo país, mas sediados em cidades diferentes, viveram histórias com finais diferentes. O grupo de Smyth em Amsterdam partiu para a criação da Congregação da Padaria, que deu origem aos batistas, como já se viu.
O grupo de Robinson em Leyden parecia estar mais preocupado com o destino da nova geração, para quem seus integrantes viam dificuldades, tanto na vida em um país estrangeiro, com costumes diferentes, quanto na volta eventual à Inglaterra, onde não havia perspectiva de mudança no panorama político-religioso. Na Holanda, cultura e língua eram estranhas e difíceis para a congregação inglesa, além de costumes morais considerados muito libertinos, influenciando seus filhos que, pouco a pouco, se tornavam mais holandeses, levando a congregação a temer que ela viesse a ser extinta como cultura inglesa se ali permanecesse. Por volta de 1617, Bradford relatou em texto o desencorajamento que a dura vida holandesa estava provocando em parte da congregação, além da esperança de se encontrar lugar melhor e mais fácil para viver, bem como o nascente desejo de propagar o evangelho do Reino de Deus nas distantes terras da América. Com parte do grupo em dificuldades financeiras e sem grandes oportunidades de ganharem seu sustento, tendo mesmo alguns retornado para a Inglaterra, a época de decisão parecia ter chegado. Havia, com certeza, medo do desconhecido, alimentado por notícias de investidas coloniais que não deram certo, de nativos violentos, de inúmeras dificuldades com relação à travessia por mar, doenças não conhecidas, mas o ideal de uma Nova Inglaterra já povoava suas mentes. Virginia era um destino possível, embora representasse uma colônia que reproduzia as condições religiosas da Inglaterra, com a igreja anglicana estabelecida. Negociações para um estabelecimento próximo à área, mas com independência nas decisões, foram concluídas em 1619, no nome de John Wincob, com a condição imposta pelo rei de que não se reconhecesse oficialmente o grupo religioso de Leyden, por serem dissidentes. Em 1620, o Conselho de Plymouth recebeu o documento de concessão real de um território ao norte da colônia de Virginia, já existente na época, mas independente dela em seu governo.   
Como nem todos os membros do grupo pudessem viajar no mesmo ano com o primeiro grupo, foi decidido que apenas os mais jovens e fortes partiriam na primeira expedição, ficando os remanescentes para uma segunda viagem quando fosse possível. Robinson deveria permanecer em Leyden com o grupo maior da congregação e Brewster lideraria a congregação americana, havendo o entendimento de que ambas as congregações mantivessem inicialmente um rol de membros único e uniforme.
Finalmente, em agosto de 1620, o Mayflower partiu com pouco mais de cem passageiros, boa parte dos quais vieram de Leyden, sendo 28 adultos membros da congregação. Após alguns meses, em dezembro do mesmo ano, com muitos incidentes de viagem, morte de um dos tripulantes e nascimento de uma criança, cuja mãe estava grávida ao embarcar, a viagem chegou ao fim e a colonização da Nova Inglaterra começou. O nome dado à criança nascida durante a travessia foi "Oceanus".
Por isso, enquanto os ingleses reunidos na padaria de Amsterdam deram origem a uma nova concepção de igreja que se tornaria em uma denominação das mais importantes no Novo Mundo, os compatriotas de Leyden começaram aos poucos a colaborar com o início da colonização norte-americana, na perspectiva de tentarem vida nova num mundo novo.
1612 é o ano aceito pela história como o da fundação da primeira igreja batista histórica inglesa, aquela que teria continuidade, se firmaria e daria frutos. Smyth havia iniciado sua concepção, Helwys dera continuidade e Murton o substituiria após sua prisão e afastamento da liderança do trabalho, conforme já se viu.
1620 foi o ano no qual o navio Mayflower trouxe da Inglaterra para a Nova Inglaterra os “Pais Peregrinos”, com passagem pela Holanda, onde a idéia inicial havia recebido adesão: um grupo de puritanos separatistas ingleses, que buscava novos ares e liberdade para viver e cultuar a Deus da forma como imaginavam ser ideal. Não deviam ser batistas os Pais Peregrinos ao chegarem a Plymouth, mas, tendo conhecido os pioneiros batistas na Holanda, certamente conviveriam com inúmeros outros batistas em anos posteriores, após o estabelecimento inicial da colônia, já que muitos dentre os batistas também acabariam por optar mais tarde pelos novos ares e pela liberdade no Novo Mundo. Afinal, entendiam todos que a Igreja deixada por Cristo estava retratada no Novo Testamento e de lá buscavam a inspiração para sua religião com Deus.

Seria muito difícil entender-se a colonização norte-americana, bem como a expansão da história batista pelo continente, sem o conhecimento dos “puritanos da Nova Inglaterra”. Isto será o assunto do próximo fascículo.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...