“Farei
uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei
extraordinariamente.”Gênesis 17.2
As condições
político-religiosas na Inglaterra, cuja reforma da igreja se iniciou a partir
de Henrique VIII, passando pelos Tudors, precisava ser redirecionada pelos
Stuarts. Quando James I assumiu em 1603, iniciando a nova dinastia, sentiram as
lideranças religiosas dos puritanos separatistas que a igreja estatal
permaneceria e a intolerância e perseguição religiosas continuariam com a nova
dinastia no poder. Fuga para o continente europeu, volta para as Ilhas
Britânicas e enfrentamento dos problemas foram soluções adotadas por muitos
grupos, como os batistas. No entanto, houve aqueles que vislumbraram uma outra
saída: a do Novo Mundo, atravessando o Atlântico e iniciando nova vida, com
novos propósitos, numa “Nova Inglaterra”. Aventureiros, religiosos de várias origens,
mas principalmente os puritanos viram aí uma grande oportunidade.
Os puritanos começaram a se
estabelecer na América a partir da colônia de Plymouth, Massachusetts, tendo os
pioneiros vindo no navio Mayflower; uma parte era formada de puritanos-separatistas
remanescentes dos refugiados de Leyden, conforme se viu. A visão do puritanismo
inicial pode ser resumida nos seguintes itens: a. a salvação pessoal vem
diretamente de Deus; b. a Bíblia contém o guia indispensável para a vida; c. a
igreja deve refletir o ensino expresso na Escritura; d. a sociedade é um
todo unificado; e. o processo da conversão deve ser enfatizado; f.
a “aliança” com Deus precisa ser concretizada.
Por “aliança”, entendiam
eles que Deus havia transferido as bênçãos, que tinham sido atribuídas ao povo
de Israel no Velho Testamento, ao “novo Israel”, ou seja, ao povo inglês e, com
a abertura de oportunidade no Novo Mundo, mais especificamente aos puritanos da
América. Os puritanos que vieram para o Novo Mundo expandiram a idéia da aliança,
que, aliada ao ideal da sociedade como um todo unificado, levou-os
à organização das igrejas e das “comunidades santas”, das quais as de
Massachusetts e Connecticut foram grandes exemplos.
Nessas comunidades, o
ministro religioso e o magistrado civil eram os homens mais importantes da
colônia e ninguém tinha o direito ao voto nas decisões se não fosse membro da
igreja local. A reprovação da igreja era considerada a penalidade mais séria
que poderia recair sobre alguém que errasse. Os sermões eram de duas, três e às
vezes quatro horas de duração, e a função dos oficiais da igreja era, entre
outras, observar a ocorrência de sonolência, acordando os que dormiam, às vezes
de modo rude.
Sobre a vida da família
puritana, escreveu William Gouge:
“… uma família é uma pequena
igreja e uma pequena comunidade, no mínimo uma representação viva delas,
vivenciando o ambiente como lugar de autoridade ou de sujeição, tal como na
igreja ou na comunidade. Ou melhor, é uma escola onde os primeiros princípios e
bases de governo e sujeição são aprendidos: onde as pessoas são treinadas para
assuntos maiores na Igreja ou na comunidade”.
Portanto, a ordem na família
estruturava fundamentalmente a crença puritana. A essência da ordem social se
baseava na autoridade do marido sobre a esposa, dos pais sobe os filhos e dos
mestres sobre os servos. Disse o puritanoRichard Greenham: “Pais e mães
têm ‘filhos desordeiros e desobedientes’ porque eles têm sido filhos
desobedientes ao Senhor e foram desordeiros aos seus pais quando eram jovens”. Como
o dever de cuidados iniciais com a criança recaía exclusivamente sobre as
mulheres, para a comunidade, a salvação eterna da alma de uma mulher dependia
necessariamente do observável bom comportamento de seus filhos.
Diferentemente de outras
colônias, os puritanos normalmente migraram para a Nova Inglaterra como uma
unidade familiar. Homens puritanos da geração da Grande Migração (1630-1640)
criam que uma boa esposa puritana não permanecia na Bretanha, mas acompanhava e
encorajava seu marido em seu grande serviço a Deus. John Winthrop em
1630 disse que a sociedade que eles formariam na Nova Inglaterra seria “como
uma cidade sobre uma colina” e que eles precisavam se tornar uma
comunidade pura de cristãos que estabeleceria um exemplo para o resto do mundo.
Para atingir esse objetivo, os líderes da colônia educariam todos os puritanos.
Pela primeira vez, talvez,
na história da humanidade, foi oferecida escola livre a todas as crianças. Os
puritanos criaram a primeira unidade escolar formal em 1635, chamada Escola de
Latim Roxbury. Em 1636, o primeiro College Americano foi estabelecido:
Harvard em Cambridge, hoje Universidade. Crianças de 6 a 8 anos frequentavam a
“escola maternal”, onde a professora, geralmente uma viúva, ensinava
leitura. Diferentes formas de escolarização eram oferecidas para meninos
já letrados em inglês e preparados para dominar gramática preparatória de
latim, hebraico e grego. Para as meninas, escolas de leitura seriam as únicas
fontes de conhecimento. Na verdade, o sexo determinava as práticas
educacionais: as mulheres iniciavam todas as crianças na leitura,
posteriormente os homens ensinavam os meninos em conhecimentos mais elevados.
Já que as meninas não poderiam desempenhar nenhum papel futuro no ministério, e
desde que as escolas de gramática eram destinadas a “instruir a
juventude até que pudessem estar prontos para a universidade”, as escolas
de gramática latina não aceitavam garotas, incluindo Harvard. A motivação para
educar era a necessidade de leitura das Escrituras. Um bom dever puritano era o
de pesquisar pessoalmente a verdade bíblica.
Por volta dos anos 1670,
quase todas as colônias da Nova Inglaterra haviam criado legislação que tornava
obrigatória a educação infantil. Em 1647, Massachusetts criou uma lei que
exigia das cidades a contratação de um professor para ensinar a escrever.
Motivos sociais para a instrução obrigatória de leitura partiram da concepção
de que crianças que não fossem ensinadas a ler seriam “bárbaras”, sendo o
analfabetismo considerado um “barbarismo”.
Qualquer desvio do modo de
vida normal dos puritanos provocava estrita desaprovação e disciplina, bem como
qualquer infração religiosa era considerada uma infração social. Palavras
como enxofre e fogo do inferno fluíam da boca de
ministros eloquentes quando eles alertavam sobre o poder de persuasão do diabo.
A leitura da Bíblia era necessária para se viver uma vida piedosa e a educação
da próxima geração visava a melhor “purificar” a igreja e aperfeiçoar a
vivência social.
Os chamados “Pais
Peregrinos” fundaram uma colônia inicial em 1620. Em 1630, chegou uma nova leva
de colonos, que fundou as cidades de Boston, Cambridge, Lynn e outras. Até
1640, 20.000 pessoas haviam se estabelecido em Massachusetts, vindas da Inglaterra.
Esse foi o ambiente encontrado por Roger Williams, John Clarke e os pioneiros
do trabalho batista no Novo Mundo. O início da saga de Roger Williams será
o assunto do próximo fascículo.
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