26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

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As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

15 - PURITANOS NA NOVA INGLATERRA

“Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente.”Gênesis 17.2

As condições político-religiosas na Inglaterra, cuja reforma da igreja se iniciou a partir de Henrique VIII, passando pelos Tudors, precisava ser redirecionada pelos Stuarts. Quando James I assumiu em 1603, iniciando a nova dinastia, sentiram as lideranças religiosas dos puritanos separatistas que a igreja estatal permaneceria e a intolerância e perseguição religiosas continuariam com a nova dinastia no poder. Fuga para o continente europeu, volta para as Ilhas Britânicas e enfrentamento dos problemas foram soluções adotadas por muitos grupos, como os batistas. No entanto, houve aqueles que vislumbraram uma outra saída: a do Novo Mundo, atravessando o Atlântico e iniciando nova vida, com novos propósitos, numa “Nova Inglaterra”. Aventureiros, religiosos de várias origens, mas principalmente os puritanos viram aí uma grande oportunidade.
Os puritanos começaram a se estabelecer na América a partir da colônia de Plymouth, Massachusetts, tendo os pioneiros vindo no navio Mayflower; uma parte era formada de puritanos-separatistas remanescentes dos refugiados de Leyden, conforme se viu. A visão do puritanismo inicial pode ser resumida nos seguintes itens: a. a salvação pessoal vem diretamente de Deus; b. a Bíblia contém o guia indispensável para a vida; c. a igreja deve refletir o ensino expresso na Escritura; d.  a sociedade é um todo unificado; e.  o processo da conversão deve ser enfatizado;  f. a “aliança” com Deus precisa ser concretizada.
Por “aliança”, entendiam eles que Deus havia transferido as bênçãos, que tinham sido atribuídas ao povo de Israel no Velho Testamento, ao “novo Israel”, ou seja, ao povo inglês e, com a abertura de oportunidade no Novo Mundo, mais especificamente aos puritanos da América. Os puritanos que vieram para o Novo Mundo expandiram a idéia da aliança, que, aliada ao ideal da sociedade como um todo unificado, levou-os à organização das igrejas e das “comunidades santas”, das quais as de Massachusetts e Connecticut foram grandes exemplos.
Nessas comunidades, o ministro religioso e o magistrado civil eram os homens mais importantes da colônia e ninguém tinha o direito ao voto nas decisões se não fosse membro da igreja local. A reprovação da igreja era considerada a penalidade mais séria que poderia recair sobre alguém que errasse. Os sermões eram de duas, três e às vezes quatro horas de duração, e a função dos oficiais da igreja era, entre outras, observar a ocorrência de sonolência, acordando os que dormiam, às vezes de modo rude.
Sobre a vida da família puritana, escreveu William Gouge:
“… uma família é uma pequena igreja e uma pequena comunidade, no mínimo uma representação viva delas, vivenciando o ambiente como lugar de autoridade ou de sujeição, tal como na igreja ou na comunidade. Ou melhor, é uma escola onde os primeiros princípios e bases de governo e sujeição são aprendidos: onde as pessoas são treinadas para assuntos maiores na Igreja ou na comunidade”.
Portanto, a ordem na família estruturava fundamentalmente a crença puritana. A essência da ordem social se baseava na autoridade do marido sobre a esposa, dos pais sobe os filhos e dos mestres sobre os servos. Disse o puritanoRichard Greenham: “Pais e mães têm ‘filhos desordeiros e desobedientes’ porque eles têm sido filhos desobedientes ao Senhor e foram desordeiros aos seus pais quando eram jovens”. Como o dever de cuidados iniciais com a criança recaía exclusivamente sobre as mulheres, para a comunidade, a salvação eterna da alma de uma mulher dependia necessariamente do observável bom comportamento de seus filhos.
Diferentemente de outras colônias, os puritanos normalmente migraram para a Nova Inglaterra como uma unidade familiar. Homens puritanos da geração da Grande Migração (1630-1640) criam que uma boa esposa puritana não permanecia na Bretanha, mas acompanhava e encorajava seu marido em seu grande serviço a Deus. John Winthrop em 1630 disse que a sociedade que eles formariam na Nova Inglaterra seria “como uma cidade sobre uma colina” e que eles precisavam se tornar uma comunidade pura de cristãos que estabeleceria um exemplo para o resto do mundo. Para atingir esse objetivo, os líderes da colônia educariam todos os puritanos.
Pela primeira vez, talvez, na história da humanidade, foi oferecida escola livre a todas as crianças. Os puritanos criaram a primeira unidade escolar formal em 1635, chamada Escola de Latim Roxbury. Em 1636, o primeiro College Americano foi estabelecido: Harvard em Cambridge, hoje Universidade. Crianças de 6 a 8 anos frequentavam a “escola maternal”, onde a professora, geralmente uma viúva, ensinava leitura. Diferentes formas de escolarização eram oferecidas para meninos já letrados em inglês e preparados para dominar gramática preparatória de latim, hebraico e grego. Para as meninas, escolas de leitura seriam as únicas fontes de conhecimento. Na verdade, o sexo determinava as práticas educacionais: as mulheres iniciavam todas as crianças na leitura, posteriormente os homens ensinavam os meninos em conhecimentos mais elevados. Já que as meninas não poderiam desempenhar nenhum papel futuro no ministério, e desde que as escolas de gramática eram destinadas a “instruir a juventude até que pudessem estar prontos para a universidade”, as escolas de gramática latina não aceitavam garotas, incluindo Harvard. A motivação para educar era a necessidade de leitura das Escrituras. Um bom dever puritano era o de pesquisar pessoalmente a verdade bíblica.
Por volta dos anos 1670, quase todas as colônias da Nova Inglaterra haviam criado legislação que tornava obrigatória a educação infantil. Em 1647, Massachusetts criou uma lei que exigia das cidades a contratação de um professor para ensinar a escrever. Motivos sociais para a instrução obrigatória de leitura partiram da concepção de que crianças que não fossem ensinadas a ler seriam “bárbaras”, sendo o analfabetismo considerado um “barbarismo”.
Qualquer desvio do modo de vida normal dos puritanos provocava estrita desaprovação e disciplina, bem como qualquer infração religiosa era considerada uma infração social. Palavras como enxofre e fogo do inferno fluíam da boca de ministros eloquentes quando eles alertavam sobre o poder de persuasão do diabo. A leitura da Bíblia era necessária para se viver uma vida piedosa e a educação da próxima geração visava a melhor “purificar” a igreja e aperfeiçoar a vivência social.
 Os chamados “Pais Peregrinos” fundaram uma colônia inicial em 1620. Em 1630, chegou uma nova leva de colonos, que fundou as cidades de Boston, Cambridge, Lynn e outras. Até 1640, 20.000 pessoas haviam se estabelecido em Massachusetts, vindas da Inglaterra. Esse foi o ambiente encontrado por Roger Williams, John Clarke e os pioneiros do trabalho batista no Novo Mundo. O início da saga de Roger Williams será o assunto do próximo fascículo. 


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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...