“Tenho,
porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde
caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras...” (Apocalipse 2: 4-5a)
Despertamento
costuma ocorrer sempre que há sono em demasia. A Igreja tem dormido muitas
vezes ao longo dos séculos, esquecendo-se de sua missão evangelizadora no mundo
e necessitando ser acordada ao longo de sua história. O movimento que interessa
no momento é chamado Grande Despertamento, ocorrido nos Estados Unidos a partir
das décadas de 1730. Na verdade, há quem mencione vários despertamentos; o
despertamento em questão fez parte de um movimento mais amplo, que aconteceu
simultaneamente nos dois lados do Atlântico, principalmente na Inglaterra,
Escócia e Alemanha no lado europeu. Surgiu ele para fazer frente a correntes
que caracterizavam a chamada Era do Iluminismo, quando a razão e a ciência
humana começaram a ser colocadas acima de qualquer outra manifestação do homem,
principalmente a religião e a emoção. O Despertamento buscava reafirmar a fé na
revelação bíblica em lugar da razão humana, contrapondo a crença no
sobrenatural ao cientificismo que começava a se impor.
Jonathan
Edwards e John Whitfield são os nomes citados como iniciadores do
movimento na sua fase americana, que apareceu primeiramente
entre presbiterianos da Pensilvânia e Nova Jersey. Dos presbiterianos, o
movimento atingiu os puritanos congregacionalistas e os batistas da Nova
Inglaterra. O despertamento levou as igrejas a pregarem o evangelho às regiões do
sul, tendo um grupo de batistas ido para a região central de Carolina do Norte,
estendendo seu trabalho às colônias vizinhas.
Caracterizado
em outros grupos religiosos como a oposição de “novas luzes” em relação às
“antigas”, entre os batistas o movimento não teve tal conformação, pois a
igreja estava em fase de estabelecimento de sua fé nas colônias, com forte
influência teológica calvinista. Não possuindo ainda a denominação muitos
ministros evangelistas próprios, os batistas dependeram de convertidos a partir
dos trabalhos de Whitfield e Edwards para expandirem sua pregação. O movimento
centralizou-se principalmente nas Carolinas e nas colônias da região central.
Questões que traziam tensão entre os batistas, como a imposição das mãos, a
guarda do sábado, a lavagem dos pés e o cântico dos salmos foram bastante
aliviadas pelo Grande Avivamento, que renovou a membresia da igreja.
Divergências internas surgiram, definindo divisões, como por exemplo, os
Batistas Regulares (representando o que poderia ser considerado como Velhas
Luzes), em oposição aos Batistas Separatistas, as Novas Luzes, mantendo todos,
no entanto, visão calvinista razoavelmente uniforme.
Um fato
marcante surgido com o movimento entre os batistas ocorreu no sul dos Estados
Unidos, em Sandy Creek, na Carolina do Norte. Shubal Stearns, influenciado pela
pregação de George Whitefield, foi o líder do despertamento na região. Nascido
em Boston em 1706, após sua conversão a Cristo ocorrida por volta de 1740,
Stearns tornou-se um ministro batista. Chamado por Deus para os campos do sul,
em 1754 foi primeiramente para a Virginia e depois para Sandy Creek. Região que
fazia parte da fronteira selvagem americana, seus habitantes tinham um estilo
de vida bem diferente daquilo que Stearns conhecera na Nova Inglaterra.
A pequena
igreja de Sandy Creek começou com dezesseis membros, metade dos quais eram da
própria família do líder. Com a pregação do evangelho e as bênçãos de Deus, o
trabalho na Carolina do Norte prosperou. Em pouco tempo, a igreja em Sandy Creek
cresceu de dezesseis para mais de seiscentos membros. Outras igrejas foram
formadas, as quais se organizaram em 1758 como Associação Batista Sandy Creek,
grupo que, sob a liderança de Stearns, expandiu a pregação do evangelho pelas
colônias do Sul. Por volta de 1770, com o crescimento havido, o grupo criou as
associações separadas de Carolina do Norte, Carolina do Sul e Virgínia.
Movimento de pequenas proporções inicialmente na Carolina, o resultado foi um
dos mais expressivos do Grande Despertamento.
Um Segundo
Avivamento ocorreu por volta do início do século XIX, dado o resfriamento de
muitos cristãos americanos que, em virtude de mais elevada educação, deixaram
de professar crenças tradicionais do cristianismo. Menos voltado em algumas
regiões para envolvimentos emocionais, consistiu o movimento em expressões de
compromisso religioso, ativismo social e, em algumas regiões, desenvolveu uma
nova forma de expressão religiosa, a reunião de acampamento, principalmente
entre os metodistas e os batistas. Provavelmente a maior reunião do tipo foi a
de Cane Ridge, no Kentucky, em agosto de 1801, tendo mobilizado entre 10.000 e
25.000 pessoas.
Segundo o
historiador Newlin, antes do Grande Despertamento, a igreja estava decadente, a
religião era maçante e a organização eclesiástica representava somente uma
configuração política e uma série de costumes ritualistas. Havia então pouco
interesse na igreja entre as pessoas das colônias. Graças a líderes como
Edwards e Whitefield, um novo interesse foi criado através de evangelismo, que
apelava para a emoção humana. Apesar da forte influência calvinista já
mencionada, a visão arminiana deu ao movimento uma melhor dimensão
evangelística, já que permitiu aos pregadores apresentar a graça de Deus de uma
forma livre a todos os que a quisessem receber.
Apesar da
autonomia da congregação local, tal como havia ocorrido nas Ilhas Britânicas,
também nos Estados Unidos o trabalho batista evoluiu para a organização de
associações e convenções, assunto do próximo segmento.
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