26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

22 - OS BATISTAS E OS DESPERTAMENTOS

“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras...” (Apocalipse 2: 4-5a)

Despertamento costuma ocorrer sempre que há sono em demasia. A Igreja tem dormido muitas vezes ao longo dos séculos, esquecendo-se de sua missão evangelizadora no mundo e necessitando ser acordada ao longo de sua história. O movimento que interessa no momento é chamado Grande Despertamento, ocorrido nos Estados Unidos a partir das décadas de 1730. Na verdade, há quem mencione vários despertamentos; o despertamento em questão fez parte de um movimento mais amplo, que aconteceu simultaneamente nos dois lados do Atlântico, principalmente na Inglaterra, Escócia e Alemanha no lado europeu. Surgiu ele para fazer frente a correntes que caracterizavam a chamada Era do Iluminismo, quando a razão e a ciência humana começaram a ser colocadas acima de qualquer outra manifestação do homem, principalmente a religião e a emoção. O Despertamento buscava reafirmar a fé na revelação bíblica em lugar da razão humana, contrapondo a crença no sobrenatural ao cientificismo que começava a se impor.
Jonathan Edwards e John Whitfield são os nomes citados como iniciadores do movimento na sua fase americana, que apareceu primeiramente entre presbiterianos da Pensilvânia e Nova Jersey. Dos presbiterianos, o movimento atingiu os puritanos congregacionalistas e os batistas da Nova Inglaterra. O despertamento levou as igrejas a pregarem o evangelho às regiões do sul, tendo um grupo de batistas ido para a região central de Carolina do Norte, estendendo seu trabalho às colônias vizinhas.
Caracterizado em outros grupos religiosos como a oposição de “novas luzes” em relação às “antigas”, entre os batistas o movimento não teve tal conformação, pois a igreja estava em fase de estabelecimento de sua fé nas colônias, com forte influência teológica calvinista. Não possuindo ainda a denominação muitos ministros evangelistas próprios, os batistas dependeram de convertidos a partir dos trabalhos de Whitfield e Edwards para expandirem sua pregação. O movimento centralizou-se principalmente nas Carolinas e nas colônias da região central. Questões que traziam tensão entre os batistas, como a imposição das mãos, a guarda do sábado, a lavagem dos pés e o cântico dos salmos foram bastante aliviadas pelo Grande Avivamento, que renovou a membresia da igreja. Divergências internas surgiram, definindo divisões, como por exemplo, os Batistas Regulares (representando o que poderia ser considerado como Velhas Luzes), em oposição aos Batistas Separatistas, as Novas Luzes, mantendo todos, no entanto, visão calvinista razoavelmente uniforme.
Um fato marcante surgido com o movimento entre os batistas ocorreu no sul dos Estados Unidos, em Sandy Creek, na Carolina do Norte. Shubal Stearns, influenciado pela pregação de George Whitefield, foi o líder do despertamento na região. Nascido em Boston em 1706, após sua conversão a Cristo ocorrida por volta de 1740, Stearns tornou-se um ministro batista. Chamado por Deus para os campos do sul, em 1754 foi primeiramente para a Virginia e depois para Sandy Creek. Região que fazia parte da fronteira selvagem americana, seus habitantes tinham um estilo de vida bem diferente daquilo que Stearns conhecera na Nova Inglaterra.
A pequena igreja de Sandy Creek começou com dezesseis membros, metade dos quais eram da própria família do líder. Com a pregação do evangelho e as bênçãos de Deus, o trabalho na Carolina do Norte prosperou. Em pouco tempo, a igreja em Sandy Creek cresceu de dezesseis para mais de seiscentos membros. Outras igrejas foram formadas, as quais se organizaram em 1758 como Associação Batista Sandy Creek, grupo que, sob a liderança de Stearns, expandiu a pregação do evangelho pelas colônias do Sul. Por volta de 1770, com o crescimento havido, o grupo criou as associações separadas de Carolina do Norte, Carolina do Sul e Virgínia. Movimento de pequenas proporções inicialmente na Carolina, o resultado foi um dos mais expressivos do Grande Despertamento.
Um Segundo Avivamento ocorreu por volta do início do século XIX, dado o resfriamento de muitos cristãos americanos que, em virtude de mais elevada educação, deixaram de professar crenças tradicionais do cristianismo. Menos voltado em algumas regiões para envolvimentos emocionais, consistiu o movimento em expressões de compromisso religioso, ativismo social e, em algumas regiões, desenvolveu uma nova forma de expressão religiosa, a reunião de acampamento, principalmente entre os metodistas e os batistas. Provavelmente a maior reunião do tipo foi a de Cane Ridge, no Kentucky, em agosto de 1801, tendo mobilizado entre 10.000 e 25.000 pessoas.
Segundo o historiador Newlin, antes do Grande Despertamento, a igreja estava decadente, a religião era maçante e a organização eclesiástica representava somente uma configuração política e uma série de costumes ritualistas. Havia então pouco interesse na igreja entre as pessoas das colônias. Graças a líderes como Edwards e Whitefield, um novo interesse foi criado através de evangelismo, que apelava para a emoção humana. Apesar da forte influência calvinista já mencionada, a visão arminiana deu ao movimento uma melhor dimensão evangelística, já que permitiu aos pregadores apresentar a graça de Deus de uma forma livre a todos os que a quisessem receber.
Apesar da autonomia da congregação local, tal como havia ocorrido nas Ilhas Britânicas, também nos Estados Unidos o trabalho batista evoluiu para a organização de associações e convenções, assunto do próximo segmento.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...