26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

25 - BATISTAS: OS PRIMÓRDIOS NO BRASIL

“Enquanto esperava por eles em Atenas, Paulo ficou profundamente indignado ao ver que a cidade estava cheia de ídolos.” Atos 17:16

No dia 4 de maio de 1813, Luther Rice, voltando de sua viagem para a Índia, desembarcou em Salvador, na Bahia, onde ficou, a fim de “colher subsídios para estudos e possível abertura do trabalho missionário batista no Brasil”, conforme afirma Betty Antunes de Oliveira em seu livro “Centelha em Restolho Seco”.
Assim como Paulo em Ateas, depois de ter passado dois meses na capital baiana, Rice observou que “a superstição católica era inteiramente predominante, criando uma situação de paganismo tão ruim quanto qualquer outra”. Portanto, Luther Rice, congregacional que se tornou batista, deve ter sido o pioneiro em nossa terra com uma visão de avaliação missionária.
            Como era o Brasil no século XIX e quais foram os acontecimentos iniciais da nossa história missionária denominacional? Luther Rice aqui esteve numa época em que a corte portuguesa de D. João VI havia-se deslocado para cá, fugindo de Napoleão Bonaparte e elevando o Brasil à condição de Reino Unido, conforme registra nossa história. Pensando nos primórdios do trabalho batista no Brasil, é preciso lembrar que o nosso país foi um país fechado para o evangelho conforme pregado e vivido por evangélicos até o século XIX. Duas tentativas aconteceram nos séculos anteriores, quando o nosso país ainda era Colônia de Portugal, quais sejam a dos franceses no Rio de Janeiro, com a expedição de Villegaignon, e a dos holandeses, com Maurício de Nassau no Nordeste, ambas fracassadas e rechaçadas pelas forças portuguesas, conforme relata a nossa história. A Igreja Católica imperava no campo religioso e impedia qualquer aproximação de outros grupos.
Com a abertura dos portos brasileiros por D. João VI, a partir de 1808, e com a independência de 1822, tudo começou a mudar, inclusive por causa de pressões externas, principalmente da Inglaterra. Assim sendo, ainda na primeira metade do século XIX, houve autorização para a abertura de casas de adoração para os estrangeiros, conforme nos informa o historiador Earle Cairns:

            “Uma das cláusulas do contrato comercial, assinado com a Inglaterra em 1810, foi que Portugal permitiria a construção de casas de adoração para os estrangeiros, contanto que não tivessem a aparência de igrejas. O uso da cruz na parte exterior dos prédios foi expressamente proibido. Um ponto interessante a ser observado na história é que muitos evangélicos no Brasil continuam inflexivelmente opostos ao uso da cruz em seus templos, julgando ser contra os seus princípios. Na verdade, porém, a proibição tem origem nas provisões desse tratado, não tendo absolutamente nada que ver com as tradições protestantes.”

Com isso, mais o direito de liberdade de culto concedido através da Constituição de 1823, os protestantes começaram a investir no Brasil, no início timidamente. Em 1819 se estabeleceram os anglicanos, os metodistas em 1836, mas foram ainda investidas pouco significativas, até que, em 1855, chegou Robert Reid Kalley ao Rio de Janeiro, iniciando o trabalho de Igreja Congregacional, vindo depois os presbiterianos em 1859 com Simonton. A primeira data importante para o início do trabalho batista coincide com a da chegada dos presbiterianos.
            No seu livro que resgata a “via da imigração” das nossas origens no Brasil, Betty Antunes aponta alguns dados em ordem cronológica. Em meados de 1850, esteve no Rio de Janeiro um norte-americano chamado Theophilus, pseudônimo provavelmente do Dr. William Theophilus Brantly Júnior, ministro do evangelho e educador, sondando a possibilidade de estabelecer-se aqui um campo missionário no Brasil”. O trecho a seguir é de sua autoria:

            “Deixem que uma Igreja batista seja aqui organizada, e as fontes que alegram a cidade de Deus logo fluirão. (...) Com todas as suas imperfeições não está longe o dia quando o Brasil se tornará uma porção invejável no Novo Mundo. O interior com as suas surpresas espera pelo dia de alegria, o qual nunca chegará a menos que o nosso povo, com o Espírito de Cristo, dê seus bens para enviar-lhe um missionário. Podemos sustentar pelo menos vinte missionários naquele vasto império. O deserto e os lugares secos se alegrarão disto e o ermo exultará e florescerá como a rosa (Is 35:1). Possa Deus comover-nos completamente para o nosso evidente dever. Amém. Theophilus

Em maio de 1857, a Comissão de Novos Campos da Convenção Batista do Sul dos EUA apresentou o relatório “sobre a possibilidade de abertura do trabalho missionário no Brasil, mesmo com insuficiência de recursos financeiros”. No dia 09/11/1859, Thomas Jefferson Bowen e sua esposa Lurenna foram nomeados como os primeiros missionários dos batistas dos EUA para o Brasil, tendo o casal chegado ao Rio em 21/05/1860.
Os dois haviam sido missionários batistas na África Ocidental, onde Bowen aprendera o dialeto ioruba. Instalaram-se no Rio e deram início ao trabalho, que pretendia de início implantar uma igreja de fala inglesa e outra para os escravos. Comunicando-se com os escravos em sua língua e distribuindo Bíblias, Bowen gerou desconfianças por parte do povo e das autoridades. Sobre sua passagem pelo Brasil, o "Diário do Rio de Janeiro" do dia 26 de maio de 1860 dá esta curiosa notícia:

            "Dizem-nos que um pastor americano, ultimamente chegado de Richmond, traz intenção de converter as almas desgarradas às doutrinas das seitas anabatistas, que professa. Começou já a exercer a sua missão pregando aos pretos-minas, cuja língua fala perfeitamente, ao que nos informam. Espíritos supersticiosos e timoratos, esses pobres pretos começam a tributar uma profunda veneração pelo missionário. Tal pregação pode desviar diversos prosélitos entre as inteligências broncas e incultas, estabelecendo, no país, uma seita cuja manifestação é inconvenientíssima. À autoridade compete a verificação deste fato."

Realmente, parece que a autoridade agiu e essa primeira missão batista foi interrompida no mesmo ano, com a volta dos missionários para os Estados Unidos. O motivo oficial do término da missão foi o estado de saúde de Thomas, coisa que já havia interrompido sua estada na África; no entanto, há indícios de que o término tenha sido motivado pela interação com os escravos e a comunicação com eles em sua língua, estando o Brasil ainda em pleno regime de escravidão.
            Outros batistas norte-americanos aqui chegaram posteriormente e outras cartas foram trocadas, principalmente pelos estabelecidos em Santa Bárbara, no Estado de São Paulo, assunto a ser debatido no próximo segmento.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

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