"..bem pode
ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o recobrasses
para sempre, não já como escravo, antes mais do que escravo, como irmão amado,
particularmente de mim, e quanto mais de ti, tanto na carne como também no
Senhor. Assim pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.” Filemom 1:15-17
Quando e onde
começou o trabalho batista no Brasil? Foi em Santa Bárbara ou em
Salvador? Em busca da definição do Marco Histórico Inicial de
nossa origem, no ano de 2009, o relatório final da comissão que estudou o
assunto por solicitação da Convenção Batista Brasileira assim se definiu:
“... a inserção do trabalho batista no Brasil se deu por duas vias: a via da
imigração (1871) e a via de missão (1882).”
A “Via da
Imigração” está muito bem relatada no livro já citado, “Centelha em Restolho
Seco”, brilhante e exaustivo trabalho de pesquisa publicado por Betty Antunes
de Oliveira. Vamos usar sua enumeração de eventos em ordem cronológica.
Em 12/04/1861
aconteceu a Declaração do início da Guerra Civil Americana. Uma de suas causas
mais importantes foi o posicionamento da nação norte-americana diante do problema
da escravidão. Assim escreveu o pastor Damy Ferreira em seu livro
“Centenário da Convenção Batista do Estado de São Paulo”, num
capítulo denominado “A Igreja Batista em Santa Bárbara do Oeste”:
“... com a
derrota dos sulistas na guerra contra o norte dos Estados Unidos, muitos
americanos do sul começaram a procurar uma nova vida em outro país. O Brasil,
na época, era uma opção promissora e as portas estavam abertas. Assim, um
grande grupo veio para o Brasil, o principal dele para Santa Bárbara d’Oeste,
no interior de São Paulo. Havia no grupo muitos crentes, principalmente
presbiterianos, metodistas e batistas.”
A emigração
dos Estados Unidos para o exterior se iniciou a partir de junho de 1865.
Um grande número de sulistas emigrou para o Brasil, tendo outros ido para o
México, Venezuela, Peru, Austrália e Nova Zelândia. Segundo a fonte já citada,
em 31/07/1866 chegou ao Rio de Janeiro, vindo do Alabama, o primeiro batista,
James Daniel, juntamente com sua esposa, filho, cunhado e duas irmãs; em dezembro
do mesmo ano, o grupo já estava em Santa Bárbara. Em 20/05/1867, aconteceu a
chegada de 277 imigrantes, entre eles os pastores Richard Ratcliff e Elias
Hoton Quillin. 31/08/1867 foi a data provável da chegada de Alexander Travis
Hawthorne, um agente de imigração, que voltaria aos EUA um ano depois. Sua
importância no nosso início batista será abordada com detalhes no próximo
segmento.
Já
estabelecidos com suas fazendas em Santa Bárbara, no dia 17/06/1870, os
pastores presbiterianos, metodistas e batistas, líderes de suas colônias,
resolveram publicar folhetos para distribuição geral, em português, inglês,
francês e alemão, “sentindo a responsabilidade de evangelizar”.
Decidiram também organizar suas igrejas iniciais, sendo que a presbiteriana foi
formada em junho de 1870, a metodista em agosto de 1871 e a batista em 10 de
setembro de 1871. Por ser a Igreja Católica religião oficial do Estado, as
pessoas de outras religiões enfrentavam muitos problemas com cemitérios e
registros. Criou, assim, o grupo não-católico o seu próprio cemitério, o qual é
utilizado até os dias de hoje pelos descendentes de norte-americanos e seus
familiares.
Assim, surgiu a
1ª Igreja Batista em solo brasileiro, tendo sido Richard Ratcliff seu primeiro
pastor, até abril de 1878, sendo sucedido por Elias Hoton Quillim, até 1881. O
livro “Centelha em Restolho Seco” relaciona como possíveis membros fundadores
da 1ª Igreja 29 nomes de batistas norte-americanos, provenientes de 12 famílias
diferentes, vindos com cartas demissórias de várias igrejas do Sul dos Estados
Unidos. A Igreja existiu por cerca de 38 anos.
Em 02/11/1879
organizou-se a segunda igreja batista, com Elias Hoton Quillim como pastor,
contando com doze membros vindos da 1ª Igreja. O nome da 2ª Igreja, “Station”,
se deve à estação da nova estrada de ferro, em terras da então província de
Santa Bárbara, onde se formou a Vila Americana, início da atual cidade da
região. A 20 de junho de 1880, Antônio Teixeira de Albuquerque tornou-se membro
dessa igreja, por profissão de fé e batismo, sendo consagrado ao ministério da
palavra no mesmo dia, já que era um ex-padre. Albuquerque foi o primeiro pastor
batista nacional. “Não sabemos” o tempo de vida eclesiástica
da 2ª Igreja, segundo Betty Antunes.
Os
acontecimentos históricos foram se sucedendo. Em novembro de 1880, William Buck
Bagby e Ana Luther foram nomeados missionários da Junta da Convenção Batista do
Sul para o Brasil, chegando ao Rio em 02/03/1881, tendo ido para Santa Bárbara.
Em 1881, Quillim pediu exoneração como pastor da 1ª Igreja, assumindo Bagby a
liderança, em 28/05/1881. Apesar de ter assumido o pastorado da igreja, há
evidências de que Bagby e sua família estavam residindo em Campinas na ocasião,
para aprendizagem da língua numa cidade mais desenvolvida. Em fevereiro do ano
seguinte, chegaram Zachary Clay Taylor e sua esposa Kate ao Rio, indo o casal
morar em Campinas com a mesma finalidade dos Bagby. Em agosto de 1882, Bagby
renunciou ao pastorado da 1ª de Santa Bárbara, após cerca de 15 meses na
função, já que, no final do mesmo mês, as famílias de Bagby, Taylor e
Albuquerque chegaram a Salvador, na Bahia.
No dia
15/10/1882 aconteceu a fundação da 1ª Igreja Batista de Salvador, na Bahia,
assunto do próximo fascículo.
Embora tendo
partido de motivos pouco louváveis, como a perda da mão de obra dos escravos e
de tentativa de manutenção do “status quo” perdido na Guerra da Secessão
americana, com o passar do tempo, desenvolveu-se nos colonos norte-americanos
de Santa Bárbara, incluindo os batistas, o desejo de se iniciar a evangelização
no Brasil. Informações retiradas do “Livro de Ouro da CBB – Epopéia de Fé,
Lutas e Vitórias”, nos permitem dizer que, no dia 12/10/1872, um ano após sua
organização, a Primeira Igreja Batista de Santa Bárbara votou enviar à Junta de
Richmond seu primeiro pedido pela vinda de missionários. Consta no documento
enviado o seguinte trecho:
"Passa
a Macedônia e ajuda-nos. Nós vos receberemos como foi recebidoo grande apóstolo,
as nossas casas vos serão abertas, o nosso progresso, a nossa
influência e os nossos labores estarão ao vosso dispor.
Esperamos que uma boa comunidade batista neste país seja acrescentada à grande
família dos batistas no mundo, ensinando, pregando e praticando a fé, uma vez
para sempre confiada aos santos”.
A “Via da Imigração”
preparou o terreno, para que a “Via da Missão” efetivamente iniciasse a
pregação do evangelho na nossa pátria, conforme a visão batista. Nossas origens
segundo a “via da missão” começam a ser discutidas a partir do próximo
fascículo.
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