26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

29 - ALBUQUERQUE: PRIMÍCIA BATISTA NO BRASIL

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” 1 Timóteo 2:5

Iniciado por norte-americanos para manutenção da própria fé após a Guerra Civil Americana, o trabalho batista no Brasil viria a colher seu primeiro fruto através da vida de Antônio Teixeira de Albuquerque. Quem foi esse homem?
Albuquerque nasceu em Maceió, estado de Alagoas, em 1840, dentro de uma família católica, conforme a esmagadora maioria da população brasileira da sua época. Depois dos estudos preliminares essenciais, foi aluno no Seminário Católico de Olinda, Pernambuco, onde se ordenou sacerdote católico romano, iniciando seu ministério na sua terra natal. Alma inquieta, não acomodada a práticas e dogmas da igreja sem cogitação, desde cedo teve sua atenção despertada para a leitura da Bíblia, tendo tido acesso a um exemplar em italiano. Na sua época, já com as primeiras igrejas protestantes presentes no país em forma incipiente, levantou-se no clero católico uma polêmica contra a “Bíblia falsa” usada pelos não-católicos. Albuquerque procurou na Bíblia evidências para a questão, buscando examinar originais gregos da Palavra de Deus e chegando à conclusão de que a Bíblia usada pelos outros grupos era a mesma dos católicos. O conhecimento da verdade fez com que suas convicções de fé fossem abaladas, percebendo ele que alguns dogmas e práticas católicos não estavam de acordo com o que lia nas Escrituras. Três questões principalmente foram por ele levantadas, já que não via respaldo bíblico para elas: a celebração da missa (principalmente o dogma da transubstanciação), o celibato obrigatório dos sacerdotes e a confissão auricular de pecados com a consequente absolvição do pecador pelo padre confessor após a repetição das rezas impostas. Estas três questões tornaram-se o tema de um livreto que Albuquerque escreveria mais tarde, com o título de “Três razões por que deixei a igreja de Roma”.
Já na situação de ex-padre, Antônio Albuquerque não teve clima para continuar vivendo em Alagoas, devido às pressões sofridas por parte de familiares, amigos e mesmo do catolicismo. Na companhia de uma amiga dos tempos de infância e juventude, de nome Senhorinha Francisca de Jesus, ele fugiu para o Recife, onde, por volta do ano 1878, acabou se casando numa igreja presbiteriana com a moça, que passou a se chamar Senhorinha Teixeira. Na cidade, teve oportunidade de convivência com Wandragésilo Melo Lins, seu conterrâneo e pregador brasileiro do evangelho ligado aos batistas .
Entre o seu casamento com Senhorinha e a integração no meio batista, passaram-se quase dois anos, conforme nos informa Betty Antunes no “Centelha”. Nesse período, o casal passou pelo Rio de Janeiro, vindo para a região próxima a Santa Bárbara, com passagens por Piracicaba e Capivari. Albuquerque teve contato com presbiterianos, congregacionais e metodistas, tendo Senhorinha inicialmente sido aceita na Igreja Metodista, com ter sido batizada quando criança no catolicismo.“Teixeira, por convicção, escolheu ser batista”, conforme informa a historiadora já mencionada, tendo entrado em contato, após o mês de junho de 1879, com os batistas de Santa Bárbara. Demonstrando sua fé em Cristo e real conversão, Antônio Teixeira de Albuquerque foi batizado pelo pastor Robert Porter Thomas, no dia 20 de junho de 1880, sendo também consagrado ao ministério pastoral no mesmo dia pelo próprio pastor Thomas e por Elias Hoton Quillin, na ocasião pastor da Igreja Batista de Santa Bárbara. Na primeira igreja batista organizada no Brasil, Albuquerque foi o primeiro brasileiro a se tornar batista pelo batismo e o primeiro pastor consagrado na nossa terra. É bom realçar que, nas igrejas protestantes nas quais o batismo infantil foi mantido após a reforma, a doutrina de convicção do pecado e conversão a Cristo fica, muita vezes, desfocada, já que a aceitação de uma pessoa como membro da igreja se dá pelo batismo, encarado como sacramento. Senhorinha Teixeira, esposa de Albuquerque, que se tornara membro de uma igreja metodista, somente chegaria a tal convicção e decisão quase um ano após a organização da igreja de Salvador, tendo feito sua profissão de fé e sido batizada em junho de 1883.
Conta a história que o casal teve seis filhos, um dos quais, Pedro Teixeira de Lima, foi eminente pregador e evangelista batista.
Como se sabe, Antônio Teixeira de Albuquerque foi o único brasileiro arrolado como membro fundador da primeira igreja batista em Salvador, na Bahia, em 1882. Auxiliando aquela igreja como pregador e pastor, com o crescimento do trabalho, teve ele a oportunidade de pregar o evangelho não somente na Bahia, mas também na sua terra natal, tendo participado da organização da 1ª Igreja Batista de Maceió no dia 17 de maio de 1885, integrando, com sua esposa e filho mais velho, um total de dez membros fundadores. Registram os anais históricos que “seu idoso pai”, bem como sua mãe, contando 72 anos de idade na ocasião, foram batizados no ao seguinte. Conforme afirma “Centelha em Restolho Seco”, “de acordo com o Dr. John Mein, o Rev. Teixeira teve  a grande alegria de batizar os seus pais”.
Muito mais existe a ser conhecido sobre o servo de Deus que foi o primeiro ex-padre a se tornar batista no Brasil. Outros casos semelhantes ao dele ocorreriam na nossa história, homens que, como Rafael Gióia Martins, Anibal Pereira Reis e outros, iniciados num ramo idolátrico do cristianismo, vieram a entender que existe um só mediador entre Deus e os homens, a saber, Jesus, o Cristo enviado por Deus ao mundo como Salvador. Albuquerque viveu quarenta e sete anos de vida neste mundo, tendo deixado entre os batistas uma obra e um exemplo de fé e coragem na vivência e defesa da fé cristã genuína, neotestamentária e apostólica pregada pelos batistas. Retirando-se para o local chamado Rio Largo, em Alagoas, a conselho medico, com a saúde debilitada, Antônio Teixeira de Albuquerque faleceu no dia 7 de abril de 1887. Em maio do mesmo ano, um mês após seu falecimento, a publicação batista “Echo da Verdade” publicaria, sob o título “Um só mediador”, aquele que seria o último artigo de Albuquerque sua ultima declaração de fé. No texto, entre outras coisas, diz o autor: “Jesus Cristo é o único mediador para a salvação. (...) Portanto, as mediações ou intercessões que a Igreja de Roma ensina que se devem fazer aos santos e às imagens não podem salvar”. Possa sua vida e a fé por ele demonstrada, ainda no século XIX, servir de edificação para as nossas vidas e ações neste século XXI, no qual o paganismo, a idolatria, as heresias e principalmente o egoísmo humano têm combatido nossas bases doutrinárias, minando muitas vezes a fé cristã e mesclando-a com misticismos de várias origens. Que a fé no Deus único e em Cristo Jesus como único caminho de reconciliação entre nós e Ele sejam a base da nossareligião, da nossa religação com o Criador de todas as coisas, é a nossa oração.
Perseguições sempre fizeram parte da história da igreja e não poderia ser diferente no Brasil. No próximo segmento, veremos quais foram as dificuldades iniciais dos nossos pioneiros.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...