“Porque há
um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” 1 Timóteo 2:5
Iniciado por
norte-americanos para manutenção da própria fé após a Guerra Civil Americana, o
trabalho batista no Brasil viria a colher seu primeiro fruto através da vida de
Antônio Teixeira de Albuquerque. Quem foi esse homem?
Albuquerque
nasceu em Maceió, estado de Alagoas, em 1840, dentro de uma família católica,
conforme a esmagadora maioria da população brasileira da sua época. Depois dos
estudos preliminares essenciais, foi aluno no Seminário Católico de Olinda,
Pernambuco, onde se ordenou sacerdote católico romano, iniciando seu ministério
na sua terra natal. Alma inquieta, não acomodada a práticas e dogmas da igreja
sem cogitação, desde cedo teve sua atenção despertada para a leitura da Bíblia,
tendo tido acesso a um exemplar em italiano. Na sua época, já com as primeiras
igrejas protestantes presentes no país em forma incipiente, levantou-se no
clero católico uma polêmica contra a “Bíblia falsa” usada pelos não-católicos.
Albuquerque procurou na Bíblia evidências para a questão, buscando examinar
originais gregos da Palavra de Deus e chegando à conclusão de que a Bíblia
usada pelos outros grupos era a mesma dos católicos. O conhecimento da verdade
fez com que suas convicções de fé fossem abaladas, percebendo ele que alguns
dogmas e práticas católicos não estavam de acordo com o que lia nas Escrituras.
Três questões principalmente foram por ele levantadas, já que não via respaldo
bíblico para elas: a celebração da missa (principalmente o dogma da
transubstanciação), o celibato obrigatório dos sacerdotes e a confissão
auricular de pecados com a consequente absolvição do pecador pelo padre
confessor após a repetição das rezas impostas. Estas três questões tornaram-se
o tema de um livreto que Albuquerque escreveria mais tarde, com o título de
“Três razões por que deixei a igreja de Roma”.
Já na situação
de ex-padre, Antônio Albuquerque não teve clima para continuar vivendo em
Alagoas, devido às pressões sofridas por parte de familiares, amigos e mesmo do
catolicismo. Na companhia de uma amiga dos tempos de infância e juventude, de
nome Senhorinha Francisca de Jesus, ele fugiu para o Recife, onde, por volta do
ano 1878, acabou se casando numa igreja presbiteriana com a moça, que passou a
se chamar Senhorinha Teixeira. Na cidade, teve oportunidade de convivência com
Wandragésilo Melo Lins, seu conterrâneo e pregador brasileiro do evangelho
ligado aos batistas .
Entre o seu
casamento com Senhorinha e a integração no meio batista, passaram-se quase dois
anos, conforme nos informa Betty Antunes no “Centelha”. Nesse período, o casal
passou pelo Rio de Janeiro, vindo para a região próxima a Santa Bárbara, com
passagens por Piracicaba e Capivari. Albuquerque teve contato com
presbiterianos, congregacionais e metodistas, tendo Senhorinha inicialmente
sido aceita na Igreja Metodista, com ter sido batizada quando criança no
catolicismo.“Teixeira, por convicção, escolheu ser batista”, conforme
informa a historiadora já mencionada, tendo entrado em contato, após o mês de
junho de 1879, com os batistas de Santa Bárbara. Demonstrando sua fé em Cristo
e real conversão, Antônio Teixeira de Albuquerque foi batizado pelo pastor
Robert Porter Thomas, no dia 20 de junho de 1880, sendo também consagrado ao
ministério pastoral no mesmo dia pelo próprio pastor Thomas e por Elias Hoton
Quillin, na ocasião pastor da Igreja Batista de Santa Bárbara. Na primeira
igreja batista organizada no Brasil, Albuquerque foi o primeiro brasileiro a se
tornar batista pelo batismo e o primeiro pastor consagrado na nossa terra. É
bom realçar que, nas igrejas protestantes nas quais o batismo infantil foi
mantido após a reforma, a doutrina de convicção do pecado e conversão a Cristo
fica, muita vezes, desfocada, já que a aceitação de uma pessoa como membro da
igreja se dá pelo batismo, encarado como sacramento. Senhorinha Teixeira,
esposa de Albuquerque, que se tornara membro de uma igreja metodista, somente
chegaria a tal convicção e decisão quase um ano após a organização da igreja de
Salvador, tendo feito sua profissão de fé e sido batizada em junho de 1883.
Conta a
história que o casal teve seis filhos, um dos quais, Pedro Teixeira de Lima,
foi eminente pregador e evangelista batista.
Como se sabe,
Antônio Teixeira de Albuquerque foi o único brasileiro arrolado como membro
fundador da primeira igreja batista em Salvador, na Bahia, em 1882. Auxiliando
aquela igreja como pregador e pastor, com o crescimento do trabalho, teve ele a
oportunidade de pregar o evangelho não somente na Bahia, mas também na sua
terra natal, tendo participado da organização da 1ª Igreja Batista de Maceió no
dia 17 de maio de 1885, integrando, com sua esposa e filho mais velho, um total
de dez membros fundadores. Registram os anais históricos que “seu idoso pai”,
bem como sua mãe, contando 72 anos de idade na ocasião, foram batizados no ao
seguinte. Conforme afirma “Centelha em Restolho Seco”, “de acordo com o
Dr. John Mein, o Rev. Teixeira teve a grande alegria de batizar os seus
pais”.
Muito mais
existe a ser conhecido sobre o servo de Deus que foi o primeiro ex-padre a se
tornar batista no Brasil. Outros casos semelhantes ao dele ocorreriam na nossa
história, homens que, como Rafael Gióia Martins, Anibal Pereira Reis e outros,
iniciados num ramo idolátrico do cristianismo, vieram a entender que existe um
só mediador entre Deus e os homens, a saber, Jesus, o Cristo enviado por Deus
ao mundo como Salvador. Albuquerque viveu quarenta e sete anos de vida neste
mundo, tendo deixado entre os batistas uma obra e um exemplo de fé e coragem na
vivência e defesa da fé cristã genuína, neotestamentária e apostólica pregada
pelos batistas. Retirando-se para o local chamado Rio Largo, em Alagoas, a
conselho medico, com a saúde debilitada, Antônio Teixeira de Albuquerque
faleceu no dia 7 de abril de 1887. Em maio do mesmo ano, um mês após seu
falecimento, a publicação batista “Echo da Verdade” publicaria, sob o título
“Um só mediador”, aquele que seria o último artigo de Albuquerque sua ultima
declaração de fé. No texto, entre outras coisas, diz o autor: “Jesus
Cristo é o único mediador para a salvação. (...) Portanto, as mediações ou
intercessões que a Igreja de Roma ensina que se devem fazer aos santos e às
imagens não podem salvar”. Possa sua vida e a fé por ele demonstrada,
ainda no século XIX, servir de edificação para as nossas vidas e ações neste
século XXI, no qual o paganismo, a idolatria, as heresias e principalmente o
egoísmo humano têm combatido nossas bases doutrinárias, minando muitas vezes a fé
cristã e mesclando-a com misticismos de várias origens. Que a fé no Deus único
e em Cristo Jesus como único caminho de reconciliação entre nós e Ele sejam a
base da nossareligião, da nossa religação com o Criador de todas as
coisas, é a nossa oração.
Perseguições
sempre fizeram parte da história da igreja e não poderia ser diferente no
Brasil. No próximo segmento, veremos quais foram as dificuldades iniciais dos
nossos pioneiros.
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