26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

30 - OS BATISTAS BRASILEIROS E A PERSEGUIÇÃO

"Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.”  Mateus 5:11

Para a constituição do rol de membros da igreja batista de Salvador, na Bahia, a primeira fundada para brasileiros, foram solicitadas as cartas demissórias dos dois casais de missionários norte-americanos da 1ª Igreja de Santa Bárbara, enquanto Antônio Teixeira de Albuquerque teve sua carta solicitada da Igreja Batista da Estação. Não havendo número de membros para se pensar em uma diretoria mais abrangente, Bagby foi escolhido como moderador e Albuquerque como secretário. Como confissão de fé, a igreja adotou a de New Hampshire, a mesma que seria posteriormente adotada pela Convenção Batista Brasileira, organizada 25 anos após. Sobre os cultos iniciais da igreja, informa-nos o historiador Reis Pereira:

            “Os cultos no salão da Rua Maciel de Baixo eram, a princípio, bem frequentados, mercê da curiosidade do povo. Bagby pregava nos cultos de domingo pela manhã e Teixeira pregava nos da noite, que eram, em geral, mais concorridos. Taylor, que não sabia ainda falar direito a língua portuguesa, ficava à porta atendendo aos visitantes.”

Jesus foi o primeiro a sofrer perseguições, já que ele personificava o próprio evangelho, as boas novas de salvação para todos os homens. Após Jesus, a Igreja foi perseguida por cerca de três séculos, com o martírio de muitos crentes por sua fé em Cristo. A perseguição romana apenas cessou com Constantino no início do século IV, quando ele criou leis que favoreceram a liberdade de culto, e com Teodósio, imperador romano responsável pela oficialização do Cristianismo como religião do império. A partir daí, a Igreja mudou de posição, passando de perseguida a perseguidora, tendo Roma combatido e exterminado muitos grupos dissidentes que ousaram confrontar suas heresias. Segundo o historiador A. H. Newman, em sua obra “Um manual da história da Igreja”, o Cristianismo “ficou tão forte que acabou oficializado, e tão corrupto que se regozijou com essa oficialização”. Essa situação de perseguição continuou até a Reforma Protestante e mesmo depois, como mostra a fuga da família Nelson da Suécia para os Estados Unidos por causa da igreja luterana oficial daquele país naqueles dias. A Igreja Batista Brasileira não poderia ser poupada, pois, de perseguição, principalmente no seu início, ainda no Brasil monárquico com a Igreja Católica como oficial, e mesmo no início da república, numa fase inicial de transição constitucional.
Partindo de uma situação de intolerância total para com todas as igrejas fora do catolicismo romano, historicamente a opressão religiosa no Brasil começou a mudar muito lentamente, no início com D. João VI que, em 1810, assinou tratado com os ingleses permitindo liberdade para a construção de capelas que não tivessem a aparência externa de templos, ampliando-se a abrangência com a constituição a partir de D. Pedro I, que estendeu a permissão aos colonos luteranos alemães no Sul. Outro fato que trouxe grandes problemas aos evangélicos na vinda para o Brasil foi o registro de nascimentos, casamentos e a realização de sepultamentos de seus mortos, eventos dominados pela Igreja Católica. Na época, não havia o casamento civil e a única união reconhecida era a religiosa, celebrada por sacerdotes católicos. Por tudo isso, segundo o nosso historiador, “todos os grupos evangélicos sofreram a intolerância do clero católico”.
Ainda no século XIX, na Bahia, Bagby e Taylor foram perseguidos e sofreram fisicamente, além de terem enfrentado a prisão por atos como pregação, batismos e casamentos realizados em público, coisa que a lei da época (década de 1880) não permitia e a Igreja Católica combatia. Já no século XX, as perseguições aconteceram principalmente em três estados: Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. Após o início na Bahia, com fatos já mencionados de violência contra a fé conforme pregada pelos batistas, a segunda igreja criada foi a da cidade do Rio de Janeiro, de onde o trabalho começou a se expandir para o interior do estado. Após expansão inicial, Salomão Ginsburg e seus companheiros sofreram oposição na forma de vaias, pedradas e outros atos de violência, principalmente em São Fidelis, Macaé e Campos.
Houve uma tentativa inicial de evangelização em Minas Gerais na cidade de Juiz de Fora, igreja organizada em 1889 pelo missionário Charles Daniel, numa iniciativa da 1ª Igreja Batista do Rio de Janeiro. Após avanços e recuos experimentados no seu início, o trabalho foi retomado, tendo atuado ali outro missionário, H. E. Soper. Em um culto ao ar livre realizado em frente à estação da Estrada de Ferro, houve um apedrejamento, tendo o culto sido realizado apenas pela persistência de Soper na busca de apoio das autoridades, sendo o restante dos trabalhos garantidos pela presença de dez soldados armados de espadas.
Os fatos mais graves de perseguição inicial narrados no livro do centenário se referem ao estado de Pernambuco, onde a primeira igreja do Recife havia sido fundada em 1886, conforme já abordado. Reorganizada por William Edwin Entzminger a partir de 1895, o trabalho se solidificou e cresceu, não somente na capital, mas também atingindo outras cidades. Nazaré, com o trabalho batista recém-iniciado, foi um dos locais onde a perseguição aconteceu, tendo tido sua casa de cultos incendiada por ordem do padre local. O trabalho em Nazaré e em outras cidades somente pôde ter continuidade porque Entzminger conseguiu audiência com Barbosa Lima, o Presidente do Estado (título dado na época ao Governador), que enviou contingente de soldados armados para garantir a ordem durante os trabalhos. O sucessor do governante, porém, que favorecia o catolicismo, acirrou novamente os ânimos da perseguição. Outros fatos lamentáveis, envolvendo perseguição e mortes, ocorreram também em outras cidades, como Cachoeira e Bom Jardim.
A existência de uma “religião oficial” tem sido causa de muitas perseguições ao longo da história da igreja e isto atingiu os batistas, principalmente no seu início. No próximo segmento, será abordado o avanço do trabalho batista no Brasil até o final do século XIX.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...