"Bem-aventurados
serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem
todo tipo de calúnia contra vocês.” Mateus 5:11
Para a
constituição do rol de membros da igreja batista de Salvador, na Bahia, a
primeira fundada para brasileiros, foram solicitadas as cartas demissórias dos
dois casais de missionários norte-americanos da 1ª Igreja de Santa Bárbara,
enquanto Antônio Teixeira de Albuquerque teve sua carta solicitada da Igreja
Batista da Estação. Não havendo número de membros para se pensar em uma
diretoria mais abrangente, Bagby foi escolhido como moderador e Albuquerque
como secretário. Como confissão de fé, a igreja adotou a de New Hampshire, a
mesma que seria posteriormente adotada pela Convenção Batista Brasileira,
organizada 25 anos após. Sobre os cultos iniciais da igreja, informa-nos o
historiador Reis Pereira:
“Os
cultos no salão da Rua Maciel de Baixo eram, a princípio, bem frequentados,
mercê da curiosidade do povo. Bagby pregava nos cultos de domingo pela manhã e
Teixeira pregava nos da noite, que eram, em geral, mais concorridos. Taylor,
que não sabia ainda falar direito a língua portuguesa, ficava à porta atendendo
aos visitantes.”
Jesus foi o
primeiro a sofrer perseguições, já que ele personificava o próprio evangelho,
as boas novas de salvação para todos os homens. Após Jesus, a Igreja foi
perseguida por cerca de três séculos, com o martírio de muitos crentes por sua
fé em Cristo. A perseguição romana apenas cessou com Constantino no início do
século IV, quando ele criou leis que favoreceram a liberdade de culto, e com
Teodósio, imperador romano responsável pela oficialização do Cristianismo como
religião do império. A partir daí, a Igreja mudou de posição, passando de
perseguida a perseguidora, tendo Roma combatido e exterminado muitos grupos
dissidentes que ousaram confrontar suas heresias. Segundo o historiador A. H.
Newman, em sua obra “Um manual da história da Igreja”, o Cristianismo “ficou
tão forte que acabou oficializado, e tão corrupto que se regozijou com essa
oficialização”. Essa situação de perseguição continuou até a Reforma
Protestante e mesmo depois, como mostra a fuga da família Nelson da Suécia para
os Estados Unidos por causa da igreja luterana oficial daquele país naqueles
dias. A Igreja Batista Brasileira não poderia ser poupada, pois, de
perseguição, principalmente no seu início, ainda no Brasil monárquico com a
Igreja Católica como oficial, e mesmo no início da república, numa fase inicial
de transição constitucional.
Partindo de uma
situação de intolerância total para com todas as igrejas fora do catolicismo
romano, historicamente a opressão religiosa no Brasil começou a mudar muito
lentamente, no início com D. João VI que, em 1810, assinou tratado com os
ingleses permitindo liberdade para a construção de capelas que não tivessem a
aparência externa de templos, ampliando-se a abrangência com a constituição a
partir de D. Pedro I, que estendeu a permissão aos colonos luteranos alemães no
Sul. Outro fato que trouxe grandes problemas aos evangélicos na vinda para o
Brasil foi o registro de nascimentos, casamentos e a realização de
sepultamentos de seus mortos, eventos dominados pela Igreja Católica. Na época,
não havia o casamento civil e a única união reconhecida era a religiosa,
celebrada por sacerdotes católicos. Por tudo isso, segundo o nosso
historiador, “todos os grupos evangélicos sofreram a intolerância do
clero católico”.
Ainda no século
XIX, na Bahia, Bagby e Taylor foram perseguidos e sofreram fisicamente, além de
terem enfrentado a prisão por atos como pregação, batismos e casamentos
realizados em público, coisa que a lei da época (década de 1880) não permitia e
a Igreja Católica combatia. Já no século XX, as perseguições aconteceram principalmente
em três estados: Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. Após o início na Bahia,
com fatos já mencionados de violência contra a fé conforme pregada pelos
batistas, a segunda igreja criada foi a da cidade do Rio de Janeiro, de onde o
trabalho começou a se expandir para o interior do estado. Após expansão
inicial, Salomão Ginsburg e seus companheiros sofreram oposição na forma de
vaias, pedradas e outros atos de violência, principalmente em São Fidelis,
Macaé e Campos.
Houve uma
tentativa inicial de evangelização em Minas Gerais na cidade de Juiz de Fora,
igreja organizada em 1889 pelo missionário Charles Daniel, numa iniciativa da
1ª Igreja Batista do Rio de Janeiro. Após avanços e recuos experimentados no
seu início, o trabalho foi retomado, tendo atuado ali outro missionário, H. E.
Soper. Em um culto ao ar livre realizado em frente à estação da Estrada de
Ferro, houve um apedrejamento, tendo o culto sido realizado apenas pela
persistência de Soper na busca de apoio das autoridades, sendo o restante dos trabalhos
garantidos pela presença de dez soldados armados de espadas.
Os fatos mais
graves de perseguição inicial narrados no livro do centenário se referem ao
estado de Pernambuco, onde a primeira igreja do Recife havia sido fundada em
1886, conforme já abordado. Reorganizada por William Edwin Entzminger a partir
de 1895, o trabalho se solidificou e cresceu, não somente na capital, mas
também atingindo outras cidades. Nazaré, com o trabalho batista recém-iniciado,
foi um dos locais onde a perseguição aconteceu, tendo tido sua casa de cultos
incendiada por ordem do padre local. O trabalho em Nazaré e em outras cidades
somente pôde ter continuidade porque Entzminger conseguiu audiência com Barbosa
Lima, o Presidente do Estado (título dado na época ao Governador), que enviou
contingente de soldados armados para garantir a ordem durante os trabalhos. O
sucessor do governante, porém, que favorecia o catolicismo, acirrou novamente
os ânimos da perseguição. Outros fatos lamentáveis, envolvendo perseguição e
mortes, ocorreram também em outras cidades, como Cachoeira e Bom Jardim.
A existência de
uma “religião oficial” tem sido causa de muitas perseguições ao longo da
história da igreja e isto atingiu os batistas, principalmente no seu início. No
próximo segmento, será abordado o avanço do trabalho batista no Brasil até o
final do século XIX.
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