26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

33 - O "CANTOR CRISTÃO"

“Cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a terra. Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome; anunciai a sua salvação de dia em dia.”Salmos 96:1-2

O povo batista é conhecido por muitas marcas, mas uma delas é, sem dúvida, seu apego à música sacra. Embora os batistas não cantassem no culto nas primeira décadas de sua história, parece que, após Benjamin Keach, o gosto pelo cântico congregacional, coral, em pequenos grupos, na forma de solos ou mesmo a execução de hinos em diversos instrumentos tem crescido com o tempo, atingindo os nossos dias.
Na trajetória batista no Brasil, uma das marcas de maior relevo no trabalho da denominação tem sido, sem dúvida, o Cantor Cristão. Entregue à Convenção em uma assembléia realizada em Campos, Estado do Rio, por Salomão Ginsburg, o Cantor Cristão tem uma história que merece ser lembrada. Na época em que foi publicado pela primeira vez, já existiam os Salmos e Hinos, uma coleção de hinos evangélicos, publicada pela primeira vez em 1861 pelos congregacionais. Lembra Reis Pereira que Salomão Ginsburg “era ainda congregacional, em 1891, quando publicou, com o título Cantor Cristão, uma primeira coleção de 16 hinos”. Lembra ainda que, no mesmo ano, já batista, Ginsburg publicou a 2ª edição, com 23 hinos, alcançando em 1921 a 17ª edição, contando com 571 hinos, dos quais 102 tinham suas letras escritas ou traduzidas pelo próprio Salomão. J. Reis Pereira lembra o fato curioso que, “em muitos lugares, especialmente no Nordeste, o próprio povo inventava a música dos hinos, por desconhecer-lhes a melodia”, antes que fosse publicada a primeira edição com partitura. Isto aconteceu em 1924, tendo a publicação contado com a decisiva colaboração do pastor Ricardo Pitrowisky, servo de Deus dotado de dons musicais, autor de vinte e três hinos do hinário. É forçoso concordar com o historiador quando diz que “não é possível avaliar o que tem sido o Cantor Cristão na edificação dos crentes e na evangelização dos não-crentes”, lembrando ainda que “seus hinos, cantados e decorados pelo povo batista, têm sido notáveis na edificação dos fiéis e na divulgação da mensagem evangélica”.
Durante a sua existência, o Cantor Cristão passou por várias reformulações, numa necessidade de adaptação a novas regras ortográficas das letras, além de mudanças na harmonia das músicas e outras inovações que se impuseram, numa tentativa de adequar o hinário a novos tempos e novas tendências. No entanto, o tempo, na sua trajetória inexorável, impõe novos rumos às atividades humanas, e a igreja está sujeita a essas inovações na arte da música. A Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira (JUERP) elaborou e entregou à denominação, em dezembro de 1990, o “Hinário para o Culto Cristão”, celebrando o centenário do Cantor Cristão, conforme afirma a Apresentação do hinário A nova coletânea é composta de 613 hinos, que mesclam “os hinos mais tradicionais, conhecidos e cantados do hinário que nos serviu por cem anos”, com nova roupagem musical, estilística, melhora gramatical e estética, “alem de aduzir a obra quase duas centenas de hinos e cânticos de autores e compositores evangélicos nacionais e internacionais de tempos contemporâneos”.
Joan Larie Sutton, coordenadora geral do projeto de criação do Hinário para o Culto Cristão, assim inicia o prefácio da publicação, chamando a nossa atenção para a importância da obra: 
“O cântico reflete a fé, as tradições, os valores, as preferências, as doutrinas, os rumos e a espiritualidade de cada um de nós. Nosso cântico reflete quem somos e onde estamos, na peregrinação cristã. Um hinário é uma coletânea de cânticos que, além de refletir quem somos, indica o estágio em que nos encontramos nessa trajetória cristã. Além disso, prevê quem seremos e medirá, no percurso, nossa estatura espiritual. O formato, o estilo e a disposição do conteúdo de um hinário definem os dias e a época de seu uso.” 
Embora usada pela Igreja, música é arte humana e, como tal, admite posicionamento de apreciação, como as demais obras artísticas. Admitiu inclusive que, historicamente, servos de Deus se colocassem contrários ao seu uso no culto cristão, por diversas razões. No entanto, devemos louvar ao Criador de todas as coisas pelos dons que ele outorgou a seus servos, principalmente neste aspecto, pelo dom da composição musical e da poesia da letra, pois isto permite que encerremos esta reflexão histórica sobre o louvor cristão batista com a poesia inspirada do poeta campineiro Gióia Júnior, que se junta, com a melodia do pastor Marcílio de Oliveira Filho, em um dos quase duzentos hinos novos incluídos no Hinário para o Culto Cristão, sob o número 473:

                        “Não a minha vontade, mas a tua;
                        Não são meus os caminhos, mas são teus.
                        Que eu comece uma nova caminhada,
                        Pensando segundo a vontade de Deus.”

A música como marca batista é reconhecida mesmo por outros grupos e denominações cristãs, mas existe um povo que soube assumir esta característica como algo muito marcante na sua história e na vinda como imigrantes para o nosso país. No próximo fascículo conheceremos a saga dos batistas letos no Brasil.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...