“Cantai
ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a terra. Cantai ao SENHOR,
bendizei o seu nome; anunciai a sua salvação de dia em dia.”Salmos 96:1-2
O povo batista
é conhecido por muitas marcas, mas uma delas é, sem dúvida, seu apego à música
sacra. Embora os batistas não cantassem no culto nas primeira décadas de sua
história, parece que, após Benjamin Keach, o gosto pelo cântico congregacional,
coral, em pequenos grupos, na forma de solos ou mesmo a execução de hinos em
diversos instrumentos tem crescido com o tempo, atingindo os nossos dias.
Na trajetória
batista no Brasil, uma das marcas de maior relevo no trabalho da denominação
tem sido, sem dúvida, o Cantor Cristão. Entregue à
Convenção em uma assembléia realizada em Campos, Estado do Rio, por Salomão
Ginsburg, o Cantor Cristão tem uma história que merece ser lembrada. Na época
em que foi publicado pela primeira vez, já existiam os Salmos e Hinos,
uma coleção de hinos evangélicos, publicada pela primeira vez em 1861 pelos
congregacionais. Lembra Reis Pereira que Salomão Ginsburg “era ainda
congregacional, em 1891, quando publicou, com o título Cantor Cristão, uma
primeira coleção de 16 hinos”. Lembra ainda que, no mesmo ano, já batista,
Ginsburg publicou a 2ª edição, com 23 hinos, alcançando em 1921 a 17ª edição,
contando com 571 hinos, dos quais 102 tinham suas letras escritas ou traduzidas
pelo próprio Salomão. J. Reis Pereira lembra o fato curioso que, “em
muitos lugares, especialmente no Nordeste, o próprio povo inventava a música
dos hinos, por desconhecer-lhes a melodia”, antes que fosse publicada
a primeira edição com partitura. Isto aconteceu em 1924, tendo a publicação
contado com a decisiva colaboração do pastor Ricardo Pitrowisky, servo de Deus
dotado de dons musicais, autor de vinte e três hinos do hinário. É forçoso
concordar com o historiador quando diz que “não é possível avaliar o que tem
sido o Cantor Cristão na edificação dos crentes e na evangelização dos
não-crentes”, lembrando ainda que “seus hinos, cantados e
decorados pelo povo batista, têm sido notáveis na edificação dos fiéis e na
divulgação da mensagem evangélica”.
Durante a sua
existência, o Cantor Cristão passou por várias reformulações, numa necessidade
de adaptação a novas regras ortográficas das letras, além de mudanças na
harmonia das músicas e outras inovações que se impuseram, numa tentativa de
adequar o hinário a novos tempos e novas tendências. No entanto, o tempo, na
sua trajetória inexorável, impõe novos rumos às atividades humanas, e a igreja
está sujeita a essas inovações na arte da música. A Junta de Educação Religiosa
e Publicações da Convenção Batista Brasileira (JUERP) elaborou e entregou à
denominação, em dezembro de 1990, o “Hinário para o Culto Cristão”, celebrando
o centenário do Cantor Cristão, conforme afirma a Apresentação do
hinário A nova coletânea é composta de 613 hinos, que mesclam “os hinos
mais tradicionais, conhecidos e cantados do hinário que nos serviu por cem
anos”, com nova roupagem musical, estilística, melhora gramatical e
estética, “alem de aduzir a obra quase duas centenas de hinos e
cânticos de autores e compositores evangélicos nacionais e internacionais de
tempos contemporâneos”.
Joan Larie
Sutton, coordenadora geral do projeto de criação do Hinário para o Culto
Cristão, assim inicia o prefácio da publicação, chamando a nossa atenção para a
importância da obra:
“O cântico
reflete a fé, as tradições, os valores, as preferências, as doutrinas, os rumos
e a espiritualidade de cada um de nós. Nosso cântico reflete quem somos e onde
estamos, na peregrinação cristã. Um hinário é uma coletânea de cânticos que,
além de refletir quem somos, indica o estágio em que nos encontramos nessa
trajetória cristã. Além disso, prevê quem seremos e medirá, no percurso, nossa
estatura espiritual. O formato, o estilo e a disposição do conteúdo de um
hinário definem os dias e a época de seu uso.”
Embora usada
pela Igreja, música é arte humana e, como tal, admite posicionamento de apreciação,
como as demais obras artísticas. Admitiu inclusive que, historicamente, servos
de Deus se colocassem contrários ao seu uso no culto cristão, por diversas
razões. No entanto, devemos louvar ao Criador de todas as coisas pelos dons que
ele outorgou a seus servos, principalmente neste aspecto, pelo dom da
composição musical e da poesia da letra, pois isto permite que encerremos esta
reflexão histórica sobre o louvor cristão batista com a poesia inspirada do
poeta campineiro Gióia Júnior, que se junta, com a melodia do pastor Marcílio
de Oliveira Filho, em um dos quase duzentos hinos novos incluídos no Hinário
para o Culto Cristão, sob o número 473:
“Não
a minha vontade, mas a tua;
Não são meus os caminhos, mas são teus.
Que eu comece uma nova caminhada,
Pensando segundo a vontade de Deus.”
A música como
marca batista é reconhecida mesmo por outros grupos e denominações cristãs, mas
existe um povo que soube assumir esta característica como algo muito marcante
na sua história e na vinda como imigrantes para o nosso país. No próximo
fascículo conheceremos a saga dos batistas letos no Brasil.
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