26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL

26 e 27 - BATISTAS NO BRASIL
As duas vias

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

41 - OS BATISTAS E O ESPÍRITO SANTO

“Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” 1 Pedro 1:16
           
A Declaração Doutrinária adotada pela Convenção Batista Brasileira contém dezenove itens, dos quais a “Doutrina da Salvação” é o de número V. O terceiro assunto abordado na doutrina é santificação, que é assim definido:
       Santificação é o processo que, principiando na regeneração, leva o homem à realização dos propósitos de Deus para a sua vida e o habilita a progredir em busca da perfeição moral e espiritual de Jesus Cristo, mediante a presença e o poder do Espírito Santo que nele habita. Ela ocorre na medida da dedicação do crente e se manifesta através de um caráter marcado pela presença e pelo fruto do Espírito, bem como por uma vida de testemunho fiel e serviço consagrado a Deus e ao próximo.
Depois de experimentar a regeneração e a justificarão, a santificação é o que se espera do batista crente no Senhor Jesus, enquanto aguarda na eternidade a culminância de sua salvação, ou seja, sua glorificação.
Nos Estados Unidos, no final do século XIX, surgiu um movimento entre as igrejas cristãs do ramo wesleyano que defendia a busca de uma experiência pessoal espiritual, que viria a ser definida como a doutrina do “batismo no Espírito Santo”, também chamada de 2ª bênção. Criam os integrantes do movimento que, após a conversão, o crente deveria experimentar o batismo no Espírito Santo, o qual, tal como no Pentecoste, lhe proporcionaria os dons carismáticos, começando com o “dom de línguas”. Surgido entre as igrejas cristãs norte-americanas, o Movimento Pentecostal se disseminou rapidamente pelo mundo a partir do século XX, formando inicialmente no Brasil igrejas ligadas ao movimento original, como a Congregação Cristã do Brasil, a Assembleia de Deus, as igrejas do Evangelho Quadrangular, a Igreja do Nazareno, entre outras.
O Brasil Batista começou a sofrer as influências do pentecostalismo a partir de 1910, com a chegada de Gunnar Vingren e Daniel Berg, dois suecos batistas que,“atendendo ao que entendiam ser direção divina”, segundo Reis Pereira, vieram para Belém do Pará, unindo-se à 1ª Igreja Batista daquela cidade, a qual havia sido fundada, catorze anos antes, por outro sueco, o batista Eurico (Erik) Nelson. Com a pregação e a vivência da “2ª bênção”, a dupla acabou por dividir opiniões na igreja, a ponto de levar à exclusão do rol de membros cerca de treze pessoas, grupo que deu origem à primeira igreja da Assembleia de Deus no Brasil. Segundo Reis Pereira, esse tipo de procedimento “foi a causa primeira da desconfiança com que os batistas tratam hoje os pentecostais”, pois “o método de reuniões mais ou menos clandestinas tinha sido repetido em outros lugares, com resultados idênticos”.
Na segunda metade do século XX, o movimento pentecostal entrou em uma segunda fase, que consistia em infiltrar-se nas denominações históricas ou tradicionais (e mesmo na Igreja Católica), causando dissensões e divisões. Entre os Batistas no Brasil, o episódio começou com Rosalee Mills Appleby, missionária norte-americana que, tendo vindo para o Brasil com seu marido na década de 1920, mesmo tendo ficado viúva, aqui permaneceu, desenvolvendo profícuo ministério. Parte do seu trabalho foi a criação de um programa radiofônico em Belo Horizonte, onde atuava, chamado de “Renovação Espiritual”, nome que revelava seu desejo de promover, no Brasil um grande avivamento. Tendo adoecido gravemente em 1958, foi tratar-se nos Estados Unidos, deixando o programa sob a liderança de José Rego do Nascimento, pastor da Igreja Batista da Lagoinha.
“Formado pelo Seminário do Rio de Janeiro em curso de graduação em teologia de duração mais curta e menor exigência de formação anterior que o curso normal,” segundo o “Livro de Ouro da CBB”, o Pastor Rego Nascimento era bom orador e escritor, dotado de excelente voz e vocabulário, sendo “forte na condenação do mundanismo nos crentes”. No Rio de Janeiro, foi eleito paraninfo dos formandos, ocasião na qual “formalmente, pela primeira vez, discursou sobre suas ideias relativas à doutrina do Espírito Santo”. Tão forte foi a impressão causada, que os alunos o convidaram para falar em uma semana especial de despertamento espiritual, durante a qual, em uma das reuniões, cerca de cinquenta pessoas “foram até a madrugada cantando, orando e fazendo tal barulho que se podia ouvir à distância”. O corpo docente do Seminário, o Jornal Batista e outros órgãos e líderes batistas posicionaram-se contra aqueles abusos e, com o passar do tempo, a Igreja Batista da Lagoinha foi desligada da Convenção Batista de Minas Gerais, sendo acompanhada por pastores solidários a Rego, além de cerca de trinta igrejas, que também deixaram a Convenção, dividindo os batistas mineiros. Conforme já mencionado, o método de reuniões mais ou menos clandestinas acabou se repetindo em outros lugares, com resultados idênticos, fato que contribuiu para dividir a denominação batista praticamente em todo o Brasil.
Houve adesão de figuras importantes do meio batista ao movimento pentecostal, como o pastor Eneas Tognini, cuja liderança diante de igrejas ou mesmo do Colégio Batista de São Paulo tinha sido notável entre nós. Em 1962, na Assembleia da CBB realizada em Curitiba, foi nomeada uma comissão, formada por treze pastores, “para estudar a doutrina do Espírito Santo, à luz do que entendemos por doutrina batista”, conforme o Livro de Ouro da CBB. Após discussão, apresentação do assunto e aprovação, o trabalho da comissão foi divulgado à denominação em um livro.
Todo esse episódio histórico vivido teve reflexos na vida da denominação batista, tendo-se reproduzido, em escala maior ou menor, praticamente em todas as denominações, fazendo com que o mundo cristão hoje possa ser entendido como formado por dois grandes blocos: os pentecostais e os não-pentecostais. Conforme se lê no “Livro de Ouro da CBB”, “Cristianismo muitas vezes é sofrimento; mas tem que ser vivido”. Como resultado dos acontecimentos no Brasil, hoje existe a Convenção Batista Nacional, que reúne as igrejas batistas pentecostais, também chamadas de “avivadas” ou “renovadas”.
Chegamos ao momento de um balanço da situação batista no Brasil, após quase um século e meio desde o início da obra, assunto que será abordado no próximo segmento.

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ÍNDICE DOS FASCÍCULOS

Introdução 1)    16 séculos de Igreja Cristã 2)    Anglicanismo: a Igreja do Rei 3)    Puritanos, Separatistas, Batistas 4)    A “C...