“Porquanto
está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” 1 Pedro 1:16
A Declaração
Doutrinária adotada pela Convenção Batista Brasileira contém dezenove itens,
dos quais a “Doutrina da Salvação” é o de número V. O terceiro assunto abordado
na doutrina é santificação, que é assim definido:
Santificação
é o processo que, principiando na regeneração, leva o homem à realização dos
propósitos de Deus para a sua vida e o habilita a progredir em busca da
perfeição moral e espiritual de Jesus Cristo, mediante a presença e o poder do
Espírito Santo que nele habita. Ela ocorre na medida da dedicação do crente e
se manifesta através de um caráter marcado pela presença e pelo fruto do
Espírito, bem como por uma vida de testemunho fiel e serviço consagrado a Deus
e ao próximo.
Depois de
experimentar a regeneração e a justificarão, a santificação é o que se espera
do batista crente no Senhor Jesus, enquanto aguarda na eternidade a culminância
de sua salvação, ou seja, sua glorificação.
Nos Estados
Unidos, no final do século XIX, surgiu um movimento entre as igrejas cristãs do
ramo wesleyano que defendia a busca de uma experiência pessoal espiritual, que
viria a ser definida como a doutrina do “batismo no Espírito Santo”,
também chamada de 2ª bênção. Criam os integrantes do movimento que, após a
conversão, o crente deveria experimentar o batismo no Espírito Santo, o qual,
tal como no Pentecoste, lhe proporcionaria os dons carismáticos, começando com
o “dom de línguas”. Surgido entre as igrejas cristãs norte-americanas, o
Movimento Pentecostal se disseminou rapidamente pelo mundo a partir do século
XX, formando inicialmente no Brasil igrejas ligadas ao movimento original, como
a Congregação Cristã do Brasil, a Assembleia de Deus, as igrejas do Evangelho
Quadrangular, a Igreja do Nazareno, entre outras.
O Brasil
Batista começou a sofrer as influências do pentecostalismo a partir de 1910,
com a chegada de Gunnar Vingren e Daniel Berg, dois suecos batistas que,“atendendo
ao que entendiam ser direção divina”, segundo Reis Pereira, vieram
para Belém do Pará, unindo-se à 1ª Igreja Batista daquela cidade, a qual havia
sido fundada, catorze anos antes, por outro sueco, o batista Eurico (Erik)
Nelson. Com a pregação e a vivência da “2ª bênção”, a dupla acabou por dividir opiniões
na igreja, a ponto de levar à exclusão do rol de membros cerca de treze
pessoas, grupo que deu origem à primeira igreja da Assembleia de Deus no
Brasil. Segundo Reis Pereira, esse tipo de procedimento “foi a causa
primeira da desconfiança com que os batistas tratam hoje os pentecostais”,
pois “o método de reuniões mais ou menos clandestinas tinha sido
repetido em outros lugares, com resultados idênticos”.
Na segunda
metade do século XX, o movimento pentecostal entrou em uma segunda fase, que
consistia em infiltrar-se nas denominações históricas ou tradicionais (e mesmo
na Igreja Católica), causando dissensões e divisões. Entre os Batistas no
Brasil, o episódio começou com Rosalee Mills Appleby, missionária
norte-americana que, tendo vindo para o Brasil com seu marido na década de
1920, mesmo tendo ficado viúva, aqui permaneceu, desenvolvendo profícuo
ministério. Parte do seu trabalho foi a criação de um programa radiofônico em
Belo Horizonte, onde atuava, chamado de “Renovação Espiritual”, nome que revelava
seu desejo de promover, no Brasil um grande avivamento. Tendo adoecido
gravemente em 1958, foi tratar-se nos Estados Unidos, deixando o programa sob a
liderança de José Rego do Nascimento, pastor da Igreja Batista da Lagoinha.
“Formado
pelo Seminário do Rio de Janeiro em curso de graduação em teologia de duração
mais curta e menor exigência de formação anterior que o curso normal,” segundo o “Livro de Ouro
da CBB”, o Pastor Rego Nascimento era bom orador e escritor, dotado de
excelente voz e vocabulário, sendo “forte na condenação do mundanismo
nos crentes”. No Rio de Janeiro, foi eleito paraninfo dos formandos,
ocasião na qual “formalmente, pela primeira vez, discursou sobre suas
ideias relativas à doutrina do Espírito Santo”. Tão forte foi a
impressão causada, que os alunos o convidaram para falar em uma semana especial
de despertamento espiritual, durante a qual, em uma das reuniões, cerca de
cinquenta pessoas “foram até a madrugada cantando, orando e fazendo tal
barulho que se podia ouvir à distância”. O corpo docente do Seminário, o
Jornal Batista e outros órgãos e líderes batistas posicionaram-se contra
aqueles abusos e, com o passar do tempo, a Igreja Batista da Lagoinha foi
desligada da Convenção Batista de Minas Gerais, sendo acompanhada por pastores
solidários a Rego, além de cerca de trinta igrejas, que também deixaram a
Convenção, dividindo os batistas mineiros. Conforme já mencionado, o método de
reuniões mais ou menos clandestinas acabou se repetindo em outros lugares, com
resultados idênticos, fato que contribuiu para dividir a denominação batista
praticamente em todo o Brasil.
Houve adesão de
figuras importantes do meio batista ao movimento pentecostal, como o pastor
Eneas Tognini, cuja liderança diante de igrejas ou mesmo do Colégio Batista de
São Paulo tinha sido notável entre nós. Em 1962, na Assembleia da CBB realizada
em Curitiba, foi nomeada uma comissão, formada por treze pastores, “para
estudar a doutrina do Espírito Santo, à luz do que entendemos por doutrina
batista”, conforme o Livro de Ouro da CBB. Após discussão, apresentação do
assunto e aprovação, o trabalho da comissão foi divulgado à denominação em um
livro.
Todo esse
episódio histórico vivido teve reflexos na vida da denominação batista,
tendo-se reproduzido, em escala maior ou menor, praticamente em todas as
denominações, fazendo com que o mundo cristão hoje possa ser entendido como
formado por dois grandes blocos: os pentecostais e os não-pentecostais.
Conforme se lê no “Livro de Ouro da CBB”, “Cristianismo muitas vezes é
sofrimento; mas tem que ser vivido”. Como resultado dos acontecimentos no
Brasil, hoje existe a Convenção Batista Nacional, que reúne as igrejas batistas
pentecostais, também chamadas de “avivadas” ou “renovadas”.
Chegamos ao
momento de um balanço da situação batista no Brasil, após quase um século e
meio desde o início da obra, assunto que será abordado no próximo segmento.
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