“Ele (Jesus Cristo) se entregou por
nós, a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si
mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática das boas obras.” (Tito 2.14)
A Reforma Protestante, após seu impacto
inicial, aos poucos se foi definindo em quatro vertentes, seguindo quatro
lideranças: Lutero, Zuínglio, Calvino e Henrique VIII. O Rei Henrique VIII deu
origem ao Anglicanismo, denominação no seio da qual surgiram os Puritanos.
Como definir e entender o Puritanismo?
Shelley, introduzindo o assunto, assim se expressa:
“Alguns
dos exilados forçados a deixar o país durante o reinado de Maria (...), quando
voltaram do continente, sob o governo de Elizabeth, começaram a reclamar contra
‘o ócio em Sião’. Eles haviam lido a Bíblia e desenvolvido suas próprias ideias
em relação à verdadeira Reforma na Inglaterra. Esses reformadores são
conhecidos como ‘puritanos’, pregadores da retidão pessoal e nacional. O futuro
estava nascendo.”
Segundo Peter Toon, em sua obra
“Puritanos e Calvinismo”, o interesse de Elizabeth I na reforma da Igreja
Anglicana “era baseado na premissa de que, enquanto a doutrina cristã é
encontrada somente na Bíblia, assuntos secundários como liturgia e organização
da igreja podem ser impostos pelo governante cristão terreno”. Opondo-se a
essa “meia reforma” surgiu o puritanismo, persuadido de que a igreja precisava
ser purificada da influência de qualquer um dos últimos vestígios do catolicismo.
O uso de vestimentas, o sinal da cruz, a confirmação, palavras tais como
“sacerdote” e “absolvição”, o ato de ajoelhar-se para a comunhão, padrinhos no
batismo, etc., eram evidências para eles da permanência da influência de Roma.
Eles exigiam a remoção desses “trapos do papismo” e um retorno
à simplicidade bíblica. Opunham-se ainda ao Livro de Orações em substituição à
pregação da Palavra de Deus, bem como solicitavam uma aplicação de disciplina
mais restrita na igreja.
Entre as muitas características dos
puritanos, podemos citar:
ü Compromisso prático e
teológico ao Sola Scriptura.
ü Desejo de uma igreja
nacional reformada e purificada na Inglaterra.
ü Ênfase na conversão e
piedade pessoais, sentindo que estavam vivendo os últimos dias antes da volta
de Cristo.
ü Ênfase na validade
perpétua da lei moral de Deus, especialmente dos dez mandamentos.
ü Aceitação geral do
Calvinismo Reformado.
ü Uma visão de vida
integrada, num estilo holístico, sem separação entre o sagrado e o
secular.
ü Profundo compromisso
com o que criam ser verdadeiro louvor das Escrituras, ou seja, nada deveria ser
empregado ou praticado que não tivesse explícita sanção bíblica.
Existindo como um movimento histórico
distinto ocorrido na Inglaterra entre 1560 e 1660, o puritanismo ofereceu para
cristãos de todas as gerações a visão de um modelo da fé como um compromisso
decisivo com Jesus Cristo, inserido em uma nação governada pelas verdades
bíblicas. Segundo Donald K. McKim, “o movimento foi calvinista quanto à
teologia e presbiteriano ou congregacional quanto ao governo eclesiástico”.
Com a demora da Igreja Anglicana em
promover reforma mais profunda, outro grupo, então, surgiu dentro do movimento
dos puritanos, chamado de “Separatistas”, pois seus participantes pretendiam
deixar o anglicanismo, sendo eles puritanos frustrados que haviam deixado de
lado a esperança de uma reforma mais abrangente na igreja. Logo após a
Conferência da Corte de Hampton, a chamada Petição Milenar, de 1603, pequenos
grupos de crentes começaram a se encontrar para adorar da maneira que entendiam
que a Bíblia lhes orientava, e não segundo os bispos ou o Livro de Orações.
Estavam determinados a obedecer a Deus, mesmo que os líderes religiosos da
Inglaterra não estivessem.
W. Walker, referindo-se ao início do
separatismo na igreja da Inglaterra, diz que “um movimento separatista
cujas últimas consequências foram de largo alcance teve seu início logo no
princípio do reinado de Tiago I, quando John Smyth (1570?-1612), ex-clérigo da
igreja estabelecida, adotou princípios separatistas e se tornou pastor de uma
congregação em Gainsborough. De imediato conseguiu aderentes nos distritos
rurais adjacentes...” Era o início do embrião batista ainda na
Inglaterra, o qual seria transplantado para Amsterdam, na Holanda, voltando
mais tarde para o solo inglês. Era o início do movimento batista no mundo.
Puritano – separatista – batista: três estágios pelos quais passou nossa
história na sua origem, numa evolução muito interessante de se observar. Do
puritanismo extraímos o desejo de purificação da igreja e da sociedade, através
da purificação do indivíduo. Do separatismo, trouxemos a ideia da necessidade
de separação de tudo aquilo que denotava “outro evangelho”, na busca do
evangelho autêntico e puro deixado por Jesus e registrado no Novo Testamento.
Da origem da palavra batista, ou seja, do batismo, vem o resgate do seu sentido
bíblico de testemunho de fé daqueles que já foram alcançados pela mensagem do
evangelho e já a aceitaram como realidade de suas vidas: o batismo dos
convertidos, em oposição ao pedobatismo, ou seja, batismo de crianças. Em
linhas gerais, aí está a origem da denominação batista.
Você já ouviu falar da “Congregação da Padaria”? É o assunto do próximo
fascículo.